domingo, 3 de março de 2013

Recomendação de Filme #06

                                    Fahrenheit 451 (François Truffaut) - 1966


Apesar de fazer parte de um dos principais movimentos da história do cinema, a Nouvelle Vague francesa, o diretor François Truffaut nunca escondeu seu desejo de filmar um filme em solo americano. Após algumas tentativas frustradas, ele finalmente conseguiu lançar o audacioso Fahrenheit 451, adaptação do livro homônimo de Ray Bradbury.



Numa sociedade futurista e opressora, qualquer espécie de leitura é considerada crime e seus leitores passíveis de serem executados à queima-roupa caso resistam a entregar seus livros. Os bombeiros, ironicamente, são os responsáveis por queimar qualquer tipo de obra que encontrem,e por punir os "transgressores". 451 graus é considerada a temperatura ideal para a queima dos livros, e por isso o nome bastante peculiar. 

O filme gira em torno de Montag (Oskar Werner), um bombeiro Londrino cuja principal responsabilidade é investigar os possíveis leitores e encontrar suas obras para, enfim, incinerá-las, representando um fim à liberdade intelectual de cada um. Conforme o governo, livros são nocivos para a saúde, causando depressão e fazendo as pessoas se tornarem pessimistas. Seguindo a lógica, a literatura abre horizontes e faz as pessoas pensarem, e no ato de pensar, enxergam tudo que há de errado no mundo. Portanto, para que ler se existe a televisão para mostrar que a vida é "bela" e "feliz"?


Montag possui um faro excepcional para o que faz, e é capaz de encontrar livros escondidos em qualquer canto de qualquer ambiente. Isso faz com que se torne um destaque da corporação. Certo dia, prestes a ser promovido, Montag acaba conhecendo a professora infantil Clarisse (Julie Christie), passando a encontrá-la com frequência enquanto a ajuda com alguns problemas pessoais, como a sua demissão da escola onde dava aulas.

Aos poucos, Clarisse começa a incitar Montag a experimentar ler, e lhe apresenta "David Copperfield". Curioso, o oficial resolve ler a obra do escritor Charles Dickens de cabo a rabo, e ao gostar, passa a se tornar um leitor assíduo. O fato muda completamente sua vida, e passa a pôr em risco sua carreira e até mesmo sua segurança.



Primeiro filme à cores de Truffaut, e também seu único trabalho falado em inglês, o filme já surpreende o espectador logo nos seus primeiros minutos. O diretor cria um mundo desolado, onde mal se vêem seres humanos andando nas ruas, mas em contrapartida, faz uso de cores fortes e de elementos típicos de ficção científica, como trens cujos trilhos se localizam na parte de cima dos vagões. 

Ainda que tenha mudado de país, fortes elementos da Nouvelle Vague são presentes no longa, como o uso de zooms, diálogos fortes e uma estonteante beleza estética.A ideia do enredo, que é bastante fiel ao livro, tenta mostrar como seria uma humanidade sem literatura, ou melhor, uma humanidade onde não há personalidade própria nem sentimentos, e onde qualquer espécie de emoção é considerada nociva.



O final, com a aparição dos homens-livro (quem assistir o filme ou ler o livro vai entender a expressão, da qual eu não falarei mais para evitar spoilers) é para mim um dos momentos mais originais do cinema mundial. Por fim, um filme que, visto uma vez, jamais será esquecido.

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