domingo, 7 de julho de 2013

Recomendação de Filme #24

Milk - A Voz da Igualdade (Gus Van Sant) - 2008

Brilhante filme estrelado pelo ator Sean Penn, Milk - A Voz da Igualdade (Milk) mostra nas telas a vida de Harvey Milk, o primeiro político norte-americano assumidamente homossexual, e sua luta diária contra o preconceito e a favor do direito de igualdade das minorias.


Inconformado por não poder ser quem realmente é perante a sociedade, e por acreditar que chegou aos 40 anos de idade sem ter feito nada de importante, Milk decide se mudar para a Califórnia ao lado de seu namorado (James Franco), a fim de mudar radicalmente os rumos da sua vida. A primeira mudança significativa acontece na própria postura de Milk, que deixa de esconder sua preferência e, sem medo dos julgamentos alheios, passa a demonstrar seu afeto pelo namorado em público.

Porém, Milk estava pré-destinado a passos maiores e, em pouco tempo, sua loja de revelação fotográfica recém-aberta se torna ponto de encontro da comunidade gay, disposta a reivindicar direitos mínimos de igualdade, como a manutenção dos seus empregos e o fim da perseguição policial. Para fazer com que suas vozes fossem ouvidas, Milk decidiu se candidatar a um cargo público, depois de perceber a necessidade de possuir um representante no legislativo em nome de todos os homossexuais da cidade.


A aceitação da homossexualidade por todos os grupos sociais é tarefa complicada, quase utópica. A dor de ser tratado pelos demais como doente ao encontrar a felicidade, e o prazer em alguém do mesmo sexo, somada à reprovação alheia, foi transmitida de maneira emocionante e tristemente convincente pelo personagem paralítico que telefona em determinado momento da história para pedir ajuda a Milk.

Aliás, as interpretações do filme são muito verdadeiras. Não só Sean Penn personifica com perfeição Harvey Milk, mas também deve-se destacar James Franco, Emile Hirsch e o político vivido por Josh Brolin, que seguem o mesmo caminho de humanização de seus personagens, independente de suas atitudes.


A mão firme de Gus Van Sant na direção é elogiável. O diretor imprime ao longa um tom de documentário, com imagens reais da época, além de enquadrar personagens como se fossem flagrados por uma câmara escondida em momentos comuns de seus cotidianos, como nas cenas em que Milk beija o namorado em frente a sua loja. Ao retratar a comunidade gay sem a imagem de depravação erroneamente associada aos homossexuais e sem retratá-los com um grupo de afeminados, Gus Van Sant colabora para a desconstrução da imagem distorcida que muitos possuem dos gays. E não poderia ser diferente, já que o cineasta é gay e por consequência tem propriedade para abordar o assunto com mais sensibilidade e desprovido de qualquer visão minimamente preconceituosa e distanciada.

"Aos que votaram contra o casamento gay, envergonhem-se". Essa foi a frase dita por Sean Penn em seu discurso de agradecimento pelo Oscar de melhor ator por sua interpretação. O recado dirigido aos californianos infelizmente prova que a luta pelos direitos de igualdade das minorias encabeçada por Harvey ainda precisa de novas lideranças capazes de mostrar ao mundo que o discurso conservador só traz atrasos à sociedade. 

É trist, porém, constatar que anos após Harvey conquistar importantes direitos para a comunidade gay por meio de sua militância política, o discurso retrógrado e desumano de algumas pessoas ainda persiste. Após sensibilizar-se com a humana história de Harvey Milk, revolta ainda mais perceber como em pleno século XXI ainda existem discursos contrários à liberdade e diversidade sexual.


Por fim, entristece ver cidadãos se considerarem superiores a ponto de julgar válido ou não a união de outras duas pessoas, e ver ainda um profissional como o dublador oficial de Sean Penn no Brasil, Marco Ribeiro, recusar-se a trabalhar em Milk com a justificativa de querer evitar problemas com a comunidade evangélica da qual é pastor. 

Quando será que as lições e exemplos de amor e tolerância servirão de alguma coisa? Que Milk consiga ser mais um passo rumo ao esclarecimento de que as pessoas merecem tratamentos iguais por serem humanas. Todos são dignos de respeito independentemente de sua raça, orientação sexual ou religião, afinal, não é isso que define o caráter de cada um.

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