domingo, 11 de agosto de 2013

Recomendação de Filme #29

Amores Brutos - Alejandro González Iñarritú (2000)


Primeiro longa-metragem do mexicano Alejandro González Iñarritu, Amores Brutos (Amores Perros) já mostrava toda a sua competência na arte de dirigir, trazendo o tipo de construção narrativa que viria a ser comum nos seus filmes posteriores (21 Gramas, Babel e Biutiful), com tramas independentes que se desenrolam até chegar a um ponto de encontro.



O filme se passa na Cidade do México, e é composto por três histórias distintas. A princípio, a única ligação que há entre elas é a presença de cachorros, cujos comportamentos parecem se confundir com os dos personagens humanos (não por acaso, o nome no original significa "Amores Caninos").

Octavio (Gael García Bernal) é o protagonista da primeira trama. Desempregado e morando numa região suburbana junto com a mãe, o irmão mais velho, a cunhada (com quem mantém uma relação às escondidas) e o sobrinho ainda bebê, ele é tomado pela ambição de ganhar dinheiro através de violentas rinhas de cachorros, organizadas de forma clandestina. Até hoje o filme gera uma enorme polêmica, já que as cenas das brigas envolvendo os animais são extremamente verdadeiras. Obviamente que não são cenas reais, sendo apenas uma técnica cinematográfica muito bem utilizada por Iñarritu.


Na segunda história, Valeria (Goya Toledo) é uma modelo que goza de um considerado prestígio no ramo, sendo amante do empresário Daniel (Álvaro Guerrero), um homem rico que vive com a esposa e duas filhas pequenas. Cumprindo o que já tinha prometido, Daniel abandona a família e compra um apartamento para morar com a modelo. A tensão da história surge quando o poodle da moça entra no assoalho da casa por uma fresta e acaba se perdendo no vão que há entre o piso de madeira e o chão do apartamento. A apreensão provocada pelo acidente se agrava na segunda metade do filme, com um trágico desfecho.

Para fechar, a terceira história gira em torno de Chivo (Emilio Echevarría), um andarilho que vaga pelas ruas da cidade juntando materiais recicláveis para vender. Personagem mais enigmático do filme, ele vive cercado de cachorros de rua, mantendo com eles uma relação de humanismo que ele há tempos perdeu com as pessoas. Com uso de flashbacks, o filme mostra que no passado, Chivo se viu obrigado a tomar uma decisão que o afastou para sempre da sua esposa e da sua única filha, na época uma criança. Ele não se arrepende da atitude, mas almeja um dia obter o perdão da filha.


Na segunda metade do filme, uma determinada situação interliga as três histórias, trazendo um processo de transformação em boa parte dos personagens. Enquanto alguns acreditam poder ter de volta aquilo que perderam, outros depositam sua esperança nos planos futuro, que talvez jamais venham a se concretizar. É então que surge a principal pergunta do filme: É possível encontrar paz interior em um mundo que parece, cada vez mais, cruel e desumano?

A violência utilizada no filme não é gratuita, e é contextualizada em situações triviais do dia-dia, sendo passível de acontecer a qualquer um de nós. Isso faz com que o longa se torne uma experiência angustiante, por evocar complexas questões morais e éticas, além de trazer aquilo que de mais cruel o ser-humano é capaz de fazer. As atuações do filme só reforçam sua qualidade exemplar, e o destaque fica por conta de Gael García Bernal, que na época ainda era um ator desconhecido do público em geral. O enredo não-linear também não deixa com que o filme se torne cansativo.



Certamente, não é um filme indicado a pessoas sensíveis, mas sim, para pessoas que tem coragem suficiente para se expôr diante de um retrato cruel da podridão humana. Com certeza, o melhor filme de um dos cineastas mais competentes da atualidade, e os quatro prêmios que recebeu, além da indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, só comprovam sua grandeza.

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