sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Crítica: Alabama Monroe (2013)


Escolhido para representar a Bélgica no Óscar de melhor filme estrangeiro em 2014, The Broken Circle Breakdown (em português ainda não tem nome definido) é um filme emocionante e pesado, que apesar de ser uma bela obra, peca por abordar muitos assuntos sem deixar exatamente claro qual sua verdadeira intenção.


Logo de cara, percebemos que não se trata de um filme leve. Na primeira cena nos deparamos com a menininha Maybelle (Nell Cattrysse), de apenas 6 anos, deitada em uma cama de hospital recebendo uma injeção no braço. Com um pouco de aprofundamento na história descobrimos que ela tem leucemia, e vive a vida entre tratamentos ineficazes.

O início do filme aborda também o começo da relação entre seus pais, Elise (Veerle Baetens) e Didier (Johan Heldenbergh). Fazendeiro e músico, Didier logo se apaixona pela tatuadora Elise, e os dois por sua vez acabam formando um casal quente e apaixonado. Essa aparente felicidade é abalada 7 anos depois, quando a menina do casal é diagnosticada com a doença.


A dor dos pais e da menina duram até o momento em que seu frágil corpo não aguenta mais. A partir de então, tem início uma relação de culpa pela trágica perda. Didier, um ateu convicto, e Elise uma religiosa pé no chão, mostram diferentes formas de reagir à morte da filha. Para ele, a filha simplesmente morreu e não existe mais, enquanto ela guarda esperanças de reencontrá-la numa vida pós-morte.

A forma não linear da narrativa, ora no passado, ora no presente, é editada brilhantemente, e ajuda a mostrar mais a fundo a personalidade de cada personagem. A fotografia também é belíssima, e a trilha sonora é super gostosa, recheada de números musicais da banda country em que o casal tocava durante as noites.


Já para o final da trama, Didier enlouquece ao ver o presidente George Bush anunciar seu veto contra as pesquisas de células-tronco, que poderiam salvar muitas vidas, inclusive a da menina. Com isso, ele passa a militar duramente contra a religião, e seu ateísmo fica ainda mais crítico e radical. É talvez nesse momento que o filme se perde um pouco. O diretor acaba optando por um recurso barato para enfatizar que a visão religiosa/metafísica da mãe é a correta, e isso acaba sendo imparcialmente mal colocado. Ainda assim, o longa é denso o suficiente para superar esse tipo de equívoco, sendo o tipo de trabalho que não se esquece nunca mais.

2 comentários:

  1. E aí Rafael, boa crítica. Se me permitir comentar. Você levantou dois pontos que penso diferente, sobre o foco do filme e a abordagem religiosa. Apesar de passear por vários assuntos, vejo como tema principal o relacinamento e sua fragilidade. Já o comportamento do Didier em relação à religião, mostra como ele tem uma postura completamente racional, que é mostrada o tempo todo no filme, ao contrário da sua mulher, que é uma pessoa super sensível a ponto de não resistir às instabilidades da relação e às situações da vida que exigem um extremo controle emocional.

    ResponderExcluir
  2. Realmente, olhando por esse lado, a fragilidade da relação pode ser sim considerado o mote da trama. Muito bem pensado. Já a respeito da abordagem religiosa, entendi sua opinião, mas ainda assim achei meio vago o resultado visto na tela. Enfim, gostei da sua visão a respeito desses dois pontos, obrigado pela colaboração.

    ResponderExcluir