quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Crítica: A Espuma dos Dias (2013)


Quem já conhece o estilo de Michel Gondry não vai se chocar com o mundo fantástico que ele cria em A Espuma dos Dias (L'écume des Jours). Porém, quem nunca esteve cara a cara com uma obra dele, certamente vai estranhar e muito sua "bizarrice" na hora de contar uma história. Visualmente, talvez seja o filme mais incrível que assisti nos últimos tempos, mas em termos de enredo, deixa muito a desejar.


Baseado em um livro do escritor Boris Vian, o núcleo da história é simples: um homem e uma mulher se apaixonam, mas a relação é abalada quando ela contrai uma doença. No entanto, mal percebemos isso ao longo do tempo, já que ao invés dos personagens humanos, quem mais chama a atenção no filme são os objetos, quase todos com vida própria.

No enredo nada é normal. Nem mesmo o simples ato de abrir a maçaneta de uma porta é como no nosso cotidiano. Desde despertadores parecidos com baratas e sapatos que possuem vida própria, até pessoas morando dentro de geladeiras e arco-íris acionados através de um botão, a trama é recheada de esquisitices. A principal delas porém, é um piano que produz bebidas conforme as notas tocadas, criação que fez com que Colin (Roman Duris) passasse a viver de uma fortuna, sem nunca sequer ter trabalhado.


O primeiro momento é mais leve, comedido, enquanto o segundo é mais dramático, com a doença de Chloé (Audrey Tautou). Porém, o diretor não deixa que sejamos atingidos por esse anti-clímax, trazendo o tempo todo uma fotografia deslumbrante e diálogos líricos.

É elogiável a criatividade de Gondry e mais uma vez ele prova que é o grande nome do surrealismo no cinema atual. Depois de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e Sonhando Acordado, ele novamente nos surpreende. Porém, há de ser salientado que as alegorias em certo ponto acabam saindo do controle, e no final acabam ficando cansativas.


Num mundo onde os filmes andam cada vez mais esquematizados, é muito bom ver filmes completamente anti-convencionais como esse. As atuações só ajudam a fazer o sucesso do longa, que certamente é um dos mais curiosos dos últimos tempos. Vale a pena para viajar e se sentir durante duas horas em um universo paralelo, mas nada que perdure na memória após seu término.


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