sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Crítica: O Mordomo da Casa Branca (2013)


Apesar de ainda não serem igualitários, os direitos dos negros e dos brancos estão cada vez mais nivelados, principalmente se comparado com o que era até um tempo atrás. A dívida que os Estados Unidos tem com a comunidade negra não é pequena, e depois da escravidão, nenhum período foi tão brutal quanto o século 20, onde os negros eram vistos como escória pela sociedade, sendo separados de forma desumana inclusive em lugares públicos.

O cinema, por sua vez, sempre se mostrou preocupado com a questão. Mississipi em Chamas e Histórias Cruzadas são bons exemplos, e agora O Mordomo da Casa Branca (The Butler) entra para essa mesma lista. Nele, acompanhamos toda a história da segregação racial americana aos olhos de Cecil Gaines (Forest Whitaker), um homem negro que trabalhou durante três décadas como mordomo da Casa Branca, o palácio do governo americano.


Cecil cresceu numa fazenda de algodão na Geórgia, e viu sua mãe ser estrupada e seu pai morto à queima roupa pelo filho dos donos. Depois de ser criado pela matriarca da família, já adolescente ele resolveu fugir do local, sem ter na verdade para onde ir. Quando entra numa padaria para roubar comida, ele é acolhido pelo criado do local, que com pena do garoto, lhe dá abrigo e passa a ensiná-lo como servir à mesa.

Depois de um tempo, consegue emprego como mordomo em um grande hotel, onde passa a servir pessoas da alta classe, com quem ele nunca havia tido contato. É lá que ele conhece Glória (Oprah Winfrey), que viria a ser sua esposa para o resto da vida. Já morando juntos, e com filhos, os dois são surpreendidos com um convite inesperado: indicado pelo dono do hotel, Cecil é chamado para trabalhar como mordomo de ninguém menos que o Presidente da República. A partir de então, Cecil passa a acompanhar de perto as medidas que cada presidente toma em relação a segregação.



O primeiro Presidente a ser servido por ele, em 1957, é Dwight Eisenhower (vivido por um Robin Willians careca e quase irreconhecível). Nesse período, Eisenhower cria o projeto de lei que coloca negros e brancos numa mesma escola, e obviamente, a decisão acaba gerando polêmica e enorme repercussão no país. Alguns negros que tentam entrar em "escolas brancas" são açoitados e sofrem humilhações, e é preciso força policial para conter os ânimos.

Em 1961, quem toma posse é John F. Kennedy (James Marsden). Carismático e boa praça, Kennedy passa a ser um forte aliado na busca pela igualdade, principalmente depois do triste caso em que um ônibus cheio de negros é incendiado por membros da Klu Klux Klan. É dele a lei que põe fim às divisões entre brancos e negros em lugares públicos. No entanto, a sociedade não está nem um pouco a fim de colaborar, e as humilhações continuam sendo frequentes. Em 1963, o assassinato de Kennedy acaba sendo um choque para todos. Cecil particularmente fica arrasado, porque mais do que um chefe, Kennedy foi um dos presidentes mais próximos dos seus empregados.



O próximo presidente foi Lyndon B. Johnson (Liev Schreiber), com uma personalidade totalmente diferente do anterior. No entanto, ele continua o legado, e decreta a lei dos direitos civis, que vinha sendo discutida há anos e exigida em protestos comandados por Malcolm X e Martin Luther King. Porém, quando tudo parece "resolvido", King é assassinado por dois militantes racistas, e o clima esquenta nas ruas, gerando quebra-paus e prisões.

Debaixo de críticas por conta do confronto no Vietnã, Johnson acaba dando lugar a Richard Nixon (John Cusack). Nixon foi um dos que menos militou a favor dos negros, e foi nesse período que surgiu os "Black Powers", que reivindicavam nas ruas os seus direitos de forma violenta. Foi com certeza um dos períodos mais brutais e difíceis, onde não só a Guerra do Vietnã ganhava os noticiários, mas também a guerra interna entre negros e brancos, sobretudo no sul do país.



O filme dá um pulo até 1981, quando Ronald Reagan (Alan Rickman) toma posse. Foi o último presidente com quem o mordomo trabalhou, e também o mais aberto para as questões raciais. Foi nesse período que Cecil conseguiu o aumento no salário dos empregados negros da Casa Branca, que lhe foi negado desde de sua entrada no emprego. Foi também a primeira vez que Cecil teve permissão de levar sua esposa no local, depois de ser convidado para um jantar pela primeira dama Nancy Reagan (Jane Fonda). Reagan, porém, rejeita a proposta dos deputados de interferir na repressão do Apartheid, na África do Sul. Desiludido e já cansado, Cecil se aposenta depois de quase 30 anos trabalhando no palácio presidencial. 

Nesse momento, o longa dá mais um pulo, e nos coloca no período atual. Cecil, já idoso, acompanha na televisão a candidatura que pode eleger o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, Barack Obama. A lágrima que cai do rosto de Cecil quando Obama vence as eleições, é a mesma que cai no espectador, ao sentir junto aquela sensação de que eles finalmente conseguiram. Sua esposa Glória, porém, morre antes de ver Obama eleito, e pode ser visto como uma representação de todos os negros que morreram antes de ver o feito histórico.



Narrado em primeira pessoa, é um filme triste, que aborda de forma emocionante e sensível toda a crueldade que existiu durante esse período da história americana. O elenco é espetacular, e as atuações não deixam nem um pouco a desejar. O destaque fica por conta de Forest Whitaker e Oprah Winfrey, que dão um verdadeiro show na pele do casal Gaines. A trilha sonora e a fotografia também são fantásticas, e juntando todos esses elementos, O Mordomo da Casa Branca certamente se torna um dos fortes candidatos ao próximo Óscar.


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