domingo, 29 de setembro de 2013

Recomendação de Filme #36

Amadeus (Milos Forman) - 1984

Por trás de todo gênio, há uma bela história para contar. Em Amadeus, grande produção dirigida pelo consagrado diretor Milos Forman, acompanhamos a vida de uma das figuras mais controversas que já passaram pela terra, a do excêntrico Wolfgang Amadeus Mozart.
Porém, mais do que uma cinebiografia do artista que dá nome ao filme, a obra foca principalmente na figura de Salieri (F. Murray Abraham), um ex músico da corte que possui uma forte admiração por Mozart. Certo dia, Salieri tenta suicídio e vai parar em um hospício, e ao ser consultado por um padre, confessa sua culpa na morte de Mozart. A partir desse momento, ele começa a contar a história que justifica sua ação, numa mistura de admiração e inveja.
Mozart desde pequeno demonstrou aptidão para a música, e com 12 anos já compôs uma ópera completa. Essa complexidade e genialidade era pouco entendida pelas mentes normais, já que ele estava à frente do seu tempo. Isso acabou transformando-o em um artista incompreendido, que fez com que suas obras só fossem reconhecidas de fato após sua morte.

O filme acompanha as motivações e frustrações da vida de Salieri, todas diretamente relacionadas com a arte e a vida de Mozart. A atuação de F. Murray Abraham é elogiável, e talvez a melhor da sua carreira. Quem merece elogios também é Tom Hulce, que fez a personificação mais consistente até hoje de Mozart para as telas.
Um filme de época, sobre música clássica, e ainda com mais de três horas de duração, poderia facilmente ser um desastre e um verdadeiro pé no saco. Porém, nas mãos de Forman, o filme se tornou um dos épicos mais incríveis da história do cinema, com uma ambientação de cair o queixo. É incrível perceber como a história flui de maneira sublime, com a utilização impecável da trilha sonora.

Por fim, Amadeus é uma perfeita união entre tudo que há de melhor no cinema. Tanto em trilha sonora, como em figurino e atuações, a obra é uma das mais impressionantes de todos os tempos, e trata-se de uma experiência única no cinema de época americano. Um filme que vale cada segundo de suas mais de três horas.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Crítica: Disconnect (2013)


Enredos com várias histórias pessoais que se interlaçam no final por algo em comum não são nenhuma novidade. Porém, apesar de ser uma técnica já bem conhecida, ainda há espaço para o uso da criatividade, e Disconnect, novo filme do diretor Henry Alex Rubin, é um excelente exemplo disso.


A trama acompanha três diferentes subtramas, todas ligadas a princípio por algo em comum: o uso excessivo das tecnologias através de websites como redes sociais e canais de pornografia, e os efeitos perigosos que existem no uso descabido dos produtos que nos levam com cada vez mais facilidade a esse mundo novo e cheio de possibilidades que é a internet.

Na primeira trama acompanhamos o casal Derek (Alexander Skarsgard) e Cindy (Paula Patoon), que mal se tocam e parecem viver cada vez mais como estranhos dentro de casa após a morte do filho pequeno. Derek tenta ficar o maior tempo possível fora de casa, e utiliza o tempo vago para entrar em sites de apostas. Cindy por sua vez, na tentativa de suprir a ausência afetiva do marido, se filia a uma rede social de apoio à pessoas com problemas, onde encontra em um estranho as palavras que queria ouvir. No entanto, tudo fica ainda pior quando, por fruto de algumas informações suas dadas através da rede mundial, eles acabam perdendo todo o dinheiro que tinham na conta bancária.


A segunda estória mostra a jornalista Nina Dunham (Andrea Riseborough), que entra no mundo dos videochats sexuais para tentar conseguir um furo de reportagem para seu programa de televisão. Na investida, ela conhece Kyle (Max Thieriot), um jovem que ganha dinheiro se mostrando na webcam e divide um apartamento com mais uma dezena de jovens que fazem o mesmo. Os dois acabam se aproximando, o que no final gera uma confusão sem tamanho.

Por fim, o filme ainda mostra dois amigos adolescentes que, para infernizar a vida de um colega inibido e quieto (Jonah Bobo), criam um fake feminino no facebook e passam a cantá-lo por meio de mensagens. O que eles não esperavam era que o resultado dessa brincadeira de mal gosto levaria a séries consequências, nessa que talvez seja a parte mais impactante do longa.


O enredo é, sobretudo, devastador. As três histórias tem muito mais em comum do que o simples uso da internet. Em cada personagem há solidão, incompreensão, mágoas e ressentimentos. Isso fica explícito na terceira história, onde um dos garotos deixa a brincadeira de lado por um momento e, durante uma conversa com o garoto tímido, mesmo se passando por outra pessoa, confessa detalhes da vida pessoal como a falta de atenção do pai e da família.

Por tudo isso, não há como negar que a força do filme esteja principalmente nas atuações, apesar de não ser somente isso que o faz ser o que é. Com um elenco recheado de atores vindos de séries famosas, muitos dos quais ainda tem pouca bagagem no cinema, o filme surpreende pela entrega total de cada um, que faz com que seus personagens saiam da tela e fiquem ainda mais próximos do espectador. Outro ponto positivo é a trilha sonora. Que ótimo trabalho de edição de som podemos conferir na obra, onde muitas vezes as cenas entram em perfeito encaixe com a música que está tocando.


Por fim, Disconnect não só é um bom entretenimento, como também serve para levantar boas questões sobre a sociedade atual. A velocidade com que as informações circulam na internet, a facilidade que as pessoas tem de se passar por outras atrás de uma tela, e com isso praticar o mal, e sobretudo a frieza que vão se tornando as relações humanas a cada dia que passa. Um filme que vale muito a pena, e que deixa um nó na garganta ao terminar.


domingo, 22 de setembro de 2013

Recomendação de Filme #35

Enter The Void (Gaspar Noé) - 2009

Que os filmes do Gaspar Noé não são nada convencionais, isso todos sabem. Ele adquiriu um nome a zelar no mundo Cult, e é o típico diretor que você escolhe amar ou odiar. No entanto, apesar de já nos ter chocado com seu estilo único em Irreversível e Sozinho Contra Todos, com Enter The Void o diretor consegue ultrapassar todos os limites, em um dos seus trabalhos mais controversos.

No longa, acompanhamos a vida de dois irmãos que moram juntos em um apartamento na cidade de Tóquio. Óscar (Nathaniel Brown) é um traficante de drogas, enquanto Linda (Paz de La Huerta) trabalha como stripper em uma boate noturna. Logo na primeira cena, já nos deparamos com algo totalmente fora do comum: a câmera em primeira pessoa, que nos coloca literalmente dentro dos olhos de Óscar, com direito a piscadas e uma cena memorável em frente ao espelho. A técnica ficou incrivelmente perfeita, e confesso não lembrar de ter visto algo tão original em anos.
Assistimos a estória se desenrolar deste ângulo até Óscar ir a um bar se encontrar com um dos seus clientes. O encontro não passa de uma emboscada da polícia para prendê-lo, e na tentativa de fuga, ele acaba sendo baleado e morto.


A partir de então, o filme passa a fazer uma longa viagem metafísica sobre a vida após a morte, de uma forma atraente e ao mesmo tempo dolorosa, citando como base o Livro Tibetano dos Mortos e seus "estágios de morte", que é explicado logo início através do amigo de Óscar, Alex (Cyril Roy).
Como se a alma de Óscar vagueasse sobre aqueles que lhe eram próximos, somos apresentados a ocorrências do passado, presente e futuro, numa viagem alucinante cheia de planos sequências psicodélicos, que deixam o espectador um pouco tonto. O diretor também não poupa no uso de algumas cenas bizarras e grotescas (como o close interno de uma penetração em uma vagina), que faz seu estilo ser único no cinema atual. 

Para alguns, Noé não passa de um pretensioso, que usa de cenas fortes para chocar e adquirir sucesso em cima disso. Para outros porém, ele é um gênio, e um dos diretores mais criativos da nova geração. E eu, particularmente, não nego que faço parte do segundo grupo.

Enter the Void não é um filme para todos os gostos. É preciso estômago forte, e disposição para embarcar em uma viagem dentre as mais incríveis que o cinema já foi capaz de produzir. Mais que um filme, é uma experiência inesquecível, dessas que não deixam quem assiste indiferente.

sábado, 21 de setembro de 2013

10 Adaptações Marcantes de Obras do escritor Stephen King

O escritor norte-americano Stephen King completa nesse sábado 65 anos de idade. Dono de uma extensa e rentável carreira no mundo da literatura, seus livros já ganharam incontáveis adaptações para o cinema.

Apesar de ser conhecido principalmente por abordar temas fantásticos e até mesmo sobrenaturais, ele chegou a escrever boas histórias fora do gênero, que resultaram em filmes como Um Sonho de Liberdade, Lembranças de um Verão, e Conta Comigo, clássicos até os dias de hoje. Além do cinema, ele já teve suas obras adaptadas também para a televisão, em diversas séries e minisséries.

Abaixo, uma lista com os 10 melhores filmes baseados na obra do escritor. Incluiria alguma que ficou de fora? Comente.


1. Carrie, a Estranha (1976)
Carrie White é uma adolescente que vive isolada com sua mãe, uma fanática religiosa. Na escola, ela sofre bullying constantemente. Um dia, uma de suas colegas fica com pena da garota e pede para que seu namorado a convide para um baile. No entanto, Carrie tem poderes paranormais e está disposta a destruir seus inimigos em uma vingança. Dirigido por Brian de Palma, o filme ganhará um remake em 2013.

2. O Iluminado (1980)
Durante o inverno, Jack Torrence é contratado para cuidar de um hotel. Ele viaja ao local com sua esposa e seu filho pequeno, e devido o isolamento, começa a sofrer distúrbios mentais, tornando-se violento e perigoso. Apesar de ser ter se tornado um dos filmes mais famosos do mundo, o autor não aprovou a direção de Stanley Kubrick e fez a sua própria adaptação, uma minissérie de TV, em 1997.

3. Christine - O Carro Assassino (1983)
O próprio diabo esconde-se no chassi do Playmouth Fury de 1958. O veículo seduz Arnie, um rapaz de 17 anos, que após adquirir o veículo passa a mudar seu comportamento drasticamente. Quando alguém tenta intervir no ‘relacionamento’, o carro ganha vida própria e começa a causar destruição para se vingar. O roteiro é baseado no livro homônimo de Stephen King, e foi dirigido por John Carpenter.

4. Cemitério Maldito (1989)
Quando os membros da família Creed mudam-se para uma casa no interior dos Estados Unidos, são alertados que o local está ao lado de um terreno maldito. De acordo com o vizinho, além do cemitério de animais, construído por crianças que perderam seus bichos atropelados na rodovia, existe um cemitério indígena que ressuscita quem lá é enterrado.

5. It - A Obra Prima do Medo (1990)
Há 30 anos, uma cidade do interior dos Estados Unidos foi aterrorizada por um assassino de crianças, conhecido como ‘A Coisa’. Agora, a criatura sanguinária reaparece sob a forma de um palhaço. Quando o bibliotecário Michael Hanlon sente sua presença, ele convoca outros seis amigos para combater o monstro que destruiu suas infâncias.

6. O Nevoeiro (2007)
Um grupo de pessoas fica preso dentro de um supermercado após a cidade ser tomada por uma misteriosa neblina. Quem tenta sair do lugar é brutalmente assassinado por fenômenos sobrenaturais. Trancafiados no local, o grupo começa a se revoltar uns contra os outros.

7. A Colheita Maldita (1984)
Isaac Chroner, um menino pregador, vai para o Nebraska e começa a fazer com que as crianças assassinem todos os adultos da cidade. Certo  dia, um casal vai até a localidade para registrar um dos crime e acaba aprisionado. Eles se desesperam ao perceberem quee têm poucas chances de escaparem vivos, pois as crianças praticam um culto que utiliza sangue humano para adubar a terra.

8. Na Hora da Zona Morta (1983)
Johnny Smith, um professor de literatura, sofre um acidente de carro e fica seis anos em coma. Quando recupera sua consciência, ele descobre que ganhou poderes de clarividência. O filme é baseado no livro homônimo de Stephen King, e também foi adaptada em uma série de TV.

9. Louca Obsessão (1990)
Um famoso escritor é resgatado de um acidente de carro por uma fã obcecada por seu trabalho. Quando ela descobre que seu personagem favorito será ‘assassinado’ pelo autor, ela começa a torturá-lo. O roteiro é baseado no livro ‘Misery’.

10. O Apanhador de Sonhos (2003)
Quatro garotos ganham poderes telepáticos após salvarem a vida de um portador da Síndrome de Down. Anos mais tarde, eles ficam presos por causa de uma nevasca e descobrem que uma força alienígena está prestes a controlar as mentes dos habitantes da cidade. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

"O Som ao Redor" será o representante do Brasil no Oscar 2014.

"And Oscar goes to..". Nunca nenhum filme brasileiro completou a tão famosa frase da premiação que ocorre todos os anos em Hollywood. Mas a esperança é a última que morre, e O Som ao Redor, do pernambucano Kléber Mendonça, é a nova aposta do para representar o país na tão cobiçada disputa, fato que não ocorre desde 1999 com Central do Brasil.


O longa, que foi escolhido na manhã dessa sexta-feira por uma comissão do Ministério da Cultura, se passa em Recife, e conta a história de um bairro de classe média comandado por um antigo morador que herdou a região da época do coronelismo. Enquanto discute-se o conflito entre passado e presente, o diretor aproveita para explorar as relações entre seus moradores, de diferentes idades, credos e raças.

Vários outros países já divulgaram seus candidatos. Entre os mais fortes concorrentes estão Gloria do Chile, premiado no Festival de Berlim, Heli do México, premiado como melhor direção em Cannes, Wadja da Arábia Saudita, ganhador de três troféus no Festival de Veneza, e o francês Renoir.


Entre os principais favoritos, além de O Som ao Redor, estavam nomes como Gonzaga - De Pai Para Filho, Faroeste Caboclo, Colegas, Uma História de Amor e Fúria, e Elena. A lista oficial dos cinco finalista será divulgada apenas em janeiro do ano que vem. Até lá, só resta esperar, e torcer para que dessa vez o nome do país seja elevado ao patamar que merece há tempos.

Especial 20 de Setembro: O Cinema Feito no Rio Grande do Sul


O Rio Grande do Sul sempre foi um celeiro de talentos para as artes, seja para a música, para o teatro ou para o cinema. Nesse 20 de setembro, dia em que todos os gaúchos comemoram o dia da Revolução Farroupilha, nada melhor que relembrar a importância que o cinema feito aqui no estado tem no circuito nacional.

Tanto em termos de quantidade como de qualidade, o Rio Grande do Sul virou um dos centros cinematográficos mais imponentes do país, principalmente nesses últimos anos. Aliás, não é a toa que o principal festival de cinema do Brasil é realizado por aqui. No entanto, se você for pesquisar sobre sua história, vai certamente encontrar dificuldades em encontrar algo relevante, já que há poucos artigos abordando o assunto. Por isso, resolvi criar esse post especial no blog, para tentar mostrar um pouco mais dessa história tão rica e por vezes esquecida do cinema feito por aqui.


Uma Breve História do Cinema Gaúcho

Desde os primórdios, grande parte dos filmes gaúchos traziam na sua composição a forte presença da temática rural, que abordava principalmente a vida no campo. Isso serviu para dar ao resto do país a imagem folclórica do morador da região: um homem rude que gosta de andar a cavalo, viver ao ar livre, e de não seguir nenhuma espécia de regra. 


Cena de O Crime dos Banhados.
Ranchinho no Sertão, de Eduardo Hirtz, filmado entre 1912 e 1913, é o primeiro trabalho significativo feito em solo gaúcho, e é um típico exemplo desse estilo. Nessa mesma época, Francisco dos Santos dava início ao seu estúdio cinematográfico em Pelotas, cidade precursora do cinema no estado, onde foram rodados filmes como O Crime dos Banhados (1913) e A Mulher do Chiqueiro (1914)Nas próximas décadas, seguiu-se ainda a criação de outros filmes do gênero, como Um Drama no Campo (1927) e Em Defesa da Irmã (1926).

A partir da década de 60, o cinema feito no Rio Grande do Sul foi ganhando forma, passando a abordar assuntos mais heterogêneos. O cantor regionalista Vitor Mateu Teixeira, o Teixeirinha, deu início a sua carreira cinematográfica filmando 12 longas entre 1967 e 1981, que puxavam tanto para o tema rural (Tropeiro Velho, 1979) como para o tema urbano (Carmen, a Cigana, 1976). Teixeirinha talvez tenha sido o precursor dessa mudança de paradigma, ao descobrir que o público daqui estava ávido por um estilo diferente de filmes e cansado das histórias sobre a vida campeira. No entanto, apesar disso, seus filmes rurais acabaram sendo os que mais arrecadaram público e bilheteria.

O tradicionalista Teixeirinha em cena.
Após Teixeirinha, foi a vez de outro cantor tradicionalista fazer sua participação no cinema: José Mendes. Ele foi a estrela de dois filmes dirigidos por Pereira Dias no final da década de 60, Pára Pedro (1968) e Não Aperta, Aparício (1969). No início da década de 70, foram lançados dois filmes baseados nos livros do escritor Érico Veríssimo e que fizeram grande sucesso na época: Capitão Rodrigo (1971), de Anselmo Duarte, e Ana Terra (1972), de Durval García.

O sucesso de todos esses filmes mostra o porque das produções rurais terem sido sempre a grande maioria na história do cinema gaúcho. Assim que começaram a aparecer os filmes "urbanos", os mesmos foram tratados quase como subversivos. E de certa forma não deixavam de ser, já que eram uma ruptura com a intensa identidade gaúcha e seu riquíssimo folclore.

A partir dos anos 80, o cenário começou a mudar drasticamente com o advindo de diretores nascidos e crescidos nos centros urbanos na região metropolitana de Porto Alegre, como Carlos Gerbase, Jorge Furtado e Giba Assis Brasil. Já nos anos 90, houve uma busca por temas que abordavam fatos da história nacional e que usavam as paisagens do Rio Grande do Sul como pano fundo, como em O Quatrilho (que chegou a concorrer ao Oscar de melhor filme estrangeiro na cerimônia de 1996) e A Paixão de Jacobina, ambos do diretor Fábio Barreto.

Elenco de O Quatrilho, filme de 1995.
Dentre os fatos do passado, porém, nenhum é tão vivo para nós como a Revolução Farroupilha. A guerra que ocorreu no Estado entre 1835 e 1845 é certamente um dos temas que mais chamou a atenção dos realizadores até então. Anahy de Las Missiones e Netto Perde Sua Alma são dois dos principais trabalhos que abordaram o tema nas telonas.

Do início do século 21 para cá, o cinema gaúcho explodiu de vez, principalmente por conta da Casa de Cinema de Porto Alegre, produtora independente criada em 1987. Presidida por nomes como Carlos Gerbase, Giba Assis Brasil, Jorge Furtado, Ana Luiza Azevedo, Nora Goulart e Luciana Tomasini, a produtora foi responsável por grandes sucessos como O Homem que Copiava, Houve uma Vez Dois VerõesMeu Tio Matou um Cara, Tolerância e Antes que o Mundo Acabe. De fora da produtora, ainda foram lançados outros trabalhos relevantes, como Ainda Orangotangos de Gustavo Spolidoro e Wood & Stock, Sexo, Orégano e Rock N' Roll de Otto Guerra.


A tendência é que daqui para frente, nosso cinema alcance cada vez mais sucesso fora das fronteiras, e uma boa mostra disso é o lançamento de O Tempo e o Vento, nova adaptação do livro de Érico Veríssimo, dirigido por Jayme Monjardim, que promete ser um dos grandes sucessos do cinema nacional em 2013.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Crítica: Jobs (2013)


Desde que foi anunciado, Jobs (Jobs) chamou a atenção por trazer para as telas a vida e a personalidade difícil do empresário e dono de uma das empresas mais rentáveis de todos os tempos, a Apple Computer. Para muitos, Jobs era um verdadeiro gênio, enquanto para outros, uma espécie de besta do apocalipse. Fato é que ele era um visionário, que na longínqua década de 70 já previa que o futuro era mesmo virtual.


Nos anos 70, Jobs largou a faculdade e vivia quase como um hippie, fumando maconha com o amigo Steve Wozniak (Josh Gad) enquanto trabalhava na empresa Atari como programador. Apesar da aparente falta de responsabilidade, Jobs tinha ambições na vida, e foi por conta disso que ele reuniu um grupo na garagem de casa para ajudá-lo na construção de um projeto. O projeto? Uma plataforma que futuramente viria a se tornar o primeiro computador pessoal da história.

A empresa, nomeada como Apple, cresceu com a concretização do projeto, ao mesmo tempo em que cresce também o espírito ganancioso de Jobs. Ele se considerava um gênio, um intocável, e que todos seus funcionários estavam ali apenas para apoiá-lo. O diretor Joshua Michael Stern não poupa na hora de mostrar esse lado "negro" de Jobs, e talvez essa tenha sido sua principal dificuldade. Afinal, como fazer o espectador que não o conhece fora das telas criar empatia por um biografado tão antipático?


Essa sua personalidade conflituosa com o tempo acaba causando desgastes, o que culmina na sua exclusão da empresa. Fora da Apple, Jobs cria a Next, onde usa ideias da ex-empresa para conseguir se manter no negócio. O filme encerra então com Jobs voltando à Apple anos depois, onde recomeça suas atividades que viriam torná-lo um dos grandes nomes do século.

Apesar de alguns pontos positivos, não dá para negar que o longa ficou muito frio na questão emocional. O enredo não se aprofunda na vida do empresário, mostrando muito pouco da sua relação fora do trabalho, principalmente com a família. Mais do que isso, muitas cenas parecem ser apenas pinceladas, e de uma hora para outra acompanhamos uma passagem de tempo enorme sem um mínimo de explicação.


Apesar de ter sido elogiado por alguns críticos, a atuação de Ashton Kutcher como Jobs não é lá das mais convincentes. Sua semelhança física, seus trejeitos e seu figurino até ajudam, mas parece faltar alguma coisa. Também não dá para negar que o roteiro deixou muita coisa de fora, como por exemplo, a criação do estúdio de animação Píxar ou sua relação com o dono da Microsoft, Bill Gates.

Por fim, para um filme independente e de baixíssimo orçamento Jobs até que cumpre o que promete, mas deixa aquele sentimento de que poderia ter ido mais além. Muito mais, aliás. Em tempo, a Sony já está com um projeto maior, de grande orçamento, para trazer a história de Jobs novamente para as telas em 2016. Resta esperar.


Crítica: Pelos Olhos de Maisie (2012)


É sempre complicado quando uma relação chega ao fim de forma conflituosa, e isso fica ainda mais desgastante quando há uma criança envolvida no meio. Muitos filmes já abordaram o assunto, mas poucos de forma tão simples e sensível como é visto em Pelos Olhos de Maisie (What Maisie Knew), adaptação moderna do romance escrito por Henry James e publicado em 1897.


A trama é sobre uma menina dócil (Onata Aprile) cujos pais estão se divorciando. Porém, diferentemente do é o costume nesse tipo de filme, ele não traz aquela intensa luta judicial pela guarda da criança. A missão é simplesmente mostrar a visão que uma criança possui de toda essa confusão, principalmente quando ela ainda é pequena demais para entender o porque dos pais brigarem tanto e irem morar separados.

Maisie passa a morar primeiramente com a mãe Susanna (Julianne Moore), uma rockstar desligada que não dá a atenção que Maisie merece. Após uma luta judicial, ela vai morar com o pai (Steve Coogan), que é tão irresponsável de afeto quanto sua ex-companheira. Nesse impasse, a menina acaba ficando perdida, indo de um lado para o outro sem um rumo definido, além de ser obrigada a presenciar intensas discussões entre os pais.


O roteiro do filme tinha todo potencial para virar um clichê, mas o diretor conseguiu levar a estória por rumos inesperados. Maisie acaba indo viver com Lincoln (Alexander Skarsgard) e Margo (Joanna Vanderham), curiosamente o ex-namorado da sua mãe e a ex-namorada de seu pai, que se juntam e provam que, acima de tudo, uma família não precisa de laços de sangue para ser unida.

Por fim, Pelos Olhos de Maisie é um filme leve, desses para assistir sem nenhuma pretensão, e que fala de forma emocionante sobre um dos assuntos mais atuais da sociedade. Uma estória que vale a pena, com certeza.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Woody Allen será homenageado no próximo Globo de Ouro.


Com 77 anos de idade, e mais de 40 filmes lançados na carreira, o cineasta Woody Allen foi o escolhido pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood para receber  prêmio Cecil B. DeMille na 71ª cerimônia do Globo de Ouro, que ocorre dia 12 de janeiro do ano que vem.

A premiação, que recebe o nome de um dos cineastas fundadores da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, é concedida anualmente em reconhecimento ao trabalho de grandes artistas da sétima arte. Entre os homenageados, estão nomes como o de Steven Spielberg, Martin Scoresese, Alfred Hitchcock, Clint Eastwood, entre outros.

Ao longo de seus mais de 50 anos de carreira, Woody Allen já foi indicado diversas vezes às principais premiações de cinema, geralmente não aparecendo nas cerimônias, já que publicamente se diz contrário a esse tipo de evento. Resta esperar para ver se dessa vez ele vai aparecer para receber o troféu, ou vai deixar os apresentadores novamente com cara de constrangidos.

12 Years a Slave é o grande vencedor do Festival de Toronto.


Chegou ao fim neste domingo a 38ª edição do Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, conhecido por apresentar ao público os principais filmes do segundo semestre. Com votação popular, o grande prêmio da edição foi para o drama 12 Years a Slave, do diretor Steve McQueen. Baseado em fatos reais, o filme apresenta a história de um escravo liberto que é forçado por um proprietário de escravos a trabalhar numa plantação da Louisiana, nos Estados Unidos. Sem previsão de estreia no Brasil, o filme é estrelado por Michael Fassbender, Chiwetel Ejiofor e Brad Pitt.

Vale ressaltar que nos últimos anos, alguns dos vencedores do Festival também se consagraram no Óscar do outro ano, o que serve de indício de que 12 Years a Slave deve vir como um dos favoritos na cerimônia de 2014. Enfim, confira abaixo a lista dos outros premiados:

Prêmio do público de Melhor Documentário - The Square, de Jehane Noujaim;
Prêmio do público, Mostra Midnight Madness - Por Que Você Não Vai Brincar no Inferno, de Sion Sono;
Prêmio FIPRESCI, Descoberta - Los Insólitos Peces Gatos, de Claudia Sainte-Luce;
Prêmio FIPRESCI, Apresentações Especiais - Ida, de Pawel Pawlikowski;
Melhor Filme Canadense - When Jews Were Funny, de Alan Zweig;
Melhor Curta-Metragem Canadense - Noah, de Walter Woodman e Patrick Cederberg;
Melhor Filme Canadense de Estreia - Asphalt Watches, de Shayne Ehman e Seth Scriver
Prêmio NTPAC de Melhor Filme Asiático - Qissa, de Anup Singh;
Prêmio Grolsch, para Cineastas Emergentes - All The Wrong Reasons, de Gia Milani.

domingo, 15 de setembro de 2013

Recomendação de Filme #34

C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (Jean-Marc Vallée) - 2005

Há tempos que a homossexualidade deixou de ser um tabu no cinema. Inúmeros filmes já trouxeram o tema à tona, a maioria como instrumento de protesto contra o preconceito ou até mesmo como forma de defesa aos direitos dos homossexuais. Poucos porém, de forma tão sensível e marcante como visto em C.R.A.Z.Y - Loucos de Amor (C.R.A.Z.Y), filme canadense do diretor Jean-Marc Vallée.

Na trama, acompanhamos a vida do jovem Zac (Marc-André Grondin), o quarto de uma família de cinco filhos homens. Nascido em plena noite de natal, Zac sempre odiou o dia do seu aniversário por ter de passar na missa do galo, já que a família sempre possuiu a religião como base de tudo. Como forma de protesto, assim que cresceu ele passou a se denominar ateu. 

Boa parte do filme acompanha, de forma delicada e até mesmo lírica, essa fase da sua vida. Porém, as coisas começam a esquentar mesmo quando ele chega na adolescência. Além das brigas com o pai e com Ray, um dos irmãos, ele passa a ter cada vez mais dúvidas sobre sua sexualidade.

Apesar da descoberta de que sua orientação sexual é "diferente", ele tenta negar isso até para si mesmo, por conta do medo de decepcionar a família. Com o desejo de agradar o pai rígido e conservador a qualquer custo, Zac vive reprimido, lutando para assim mesmo definir sua própria identidade, numa juventude que vivia os ares de uma revolução cultural e de uma liberdade sexual.

Vocês devem estar se perguntando o porque desse nome. Nada mais é do que a inicial dos nomes dos cinco irmãos, na ordem de idade (Cristian, Raymond, Antoine, Zac e Yvan). Além disso, a canção de Patsy Cline "Crazy" é a preferida do pai da família. Aliás, vale destacar que a música tem um grande valor na obra. Prova disso, é que a maior parte do seu orçamento foi justamente para pagar os direitos autorais de músicas consagradas, como Pink Floyd, Rolling Stones e David Bowie. Bowie, inclusive, é a grande inspiração de vida de Zac, que busca na sua música um momento de prazer e um escape para os problemas.

Por fim, C.R.A.Z.Y. é um brilhante filme, que consegue aliar momentos de comédia com drama de forma impecável. Mais do que isso, a fotografia imposta pelo diretor é um caso a parte, e enche nossos olhos ao assistir. Uma obra tocante que vale muito a pena assistir.

Os 5 Melhores Filmes de Oliver Stone.

Nascido em Nova Iorque no dia 15 de setembro de 1946, o cineasta Oliver Stone é conhecido por fazer filmes de forte apelo político, que criticam de forma conflitante as principais instituições dos Estados Unidos e seus comandantes. Alguns o acusam de tentativa de manipulação das massas além da criação de teorias conspiratórias, e por isso mesmo, sua obra talvez seja uma das mais controversas da história do cinema americano.

Entre os políticos que Stone já cutucou estão George W. Bush (W.), John Kennedy (JFK: A Pergunta que Não Quer Calar) e Richard Nixon (Nixon). Além disso, ele fez uma forte crítica à bolsa de valores (Wall Street: Poder e Cobiça) e à guerra (Platoon e Nascido em 4 de Julho). Abaixo, vocês conferem uma lista com os 5 melhores trabalhos do consagrado diretor ao longo de sua carreira:

1. Platoon (1986)

Para muitos o melhor filme de guerra já feito na história do cinema, Platoon é baseado nas memórias pessoais de Stone, quando ele foi obrigado a servir na Guerra do Vietnã. O filme mostra todos os horrores da guerra ao olhos de Chris (Charlie Sheen), um jovem recruta que se alista voluntariamente para a guerra, mas que se desespera ao perceber que o cenário é muito pior do que imaginava. O filme ganhou 4 Oscars, incluindo o de melhor filme e o de melhor direção.

2. Assassinos por Natureza (1994)

Uma história de amor diferente do que somos acostumados a ver. Mickey Knox (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Kuliette Lewis) se juntaram pelo desejo que um sente do outro, mas mais do que isso, pelo amor à violência. Eles saem pela estrada roubando e matando dezenas de pessoas em menos de 3 semanas, sempre deixando alguém vivo para poder contar o que aconteceu. Graças a um repórter sensacionalista que transforma a história dos dois em um verdadeiro circo, eles acabam adquirindo fama e até mesmo fãs por todo os Estados Unidos.

3. Nascido em 4 de Julho (1989)

Ron Kovic (Tom Cruise), um soldado americano, é ferido na perna durante a Guerra do Vietnã e acaba ficando paraplégico. Enquanto passa os dias no hospital, ele passa a questionar o papel do seu país no conflito, tornando-se um ativista político, e lutando contra a guerra ao mesmo tempo em que defende os direitos dos deficientes físicos.

4. The Doors (1992)

Uma das melhores biografias musicais já feitas para o cinema, o longa conta a trajetória da banda de rock The Doors, principalmente do seu vocalista, o mito Jim Morrison. Morrison era um Deus dos excessos, tanto de álcool e drogas, como de sexo e confusões. Esse seu estilo exagerado e irresponsável de tratar a vida acabou levando-o a um destino trágico. No entanto, sua poesia e música são eternas, e esse filme é uma homenagem digna do seu talento.

5. Wall Street: Poder e Cobiça (1987)

Buddy Fox (Charlie Sheen) é um ambicioso jovem corretor da bolsa, que sonha em conhecer seu ídolo Gordon Gekko (Michael Douglas), um milionário ganancioso e frio. O filme mostra os bastidores do mundo dos grandes negócios na década de 1980, e é uma crítica extrema ao culto que algumas pessoas fazem a outras, principalmente por conta da riqueza.