quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crítica: Ernest & Céléstine (2013)


Pré-indicado para concorrer ao prêmio de melhor filme de animação na próxima cerimônia do Óscar, Ernest & Celestine (Ernest et Célestine), dos diretores Benjamin Renner, Stéphane Aubier e Vincent Patar, é uma das animações mais graciosas e simples que já tive a oportunidade de assistir.


Celestine é uma ratinha que vive num orfanato e se sente incompreendida no mundo subterrâneo dos ratos. Ela cresceu na instituição ouvindo terríveis histórias sobre a crueldade dos ursos, que vivem no mundo superior, e é sempre deixada de lado pelos outros membros do orfanato, vivendo solitária na companhia do seu caderno de desenho.

Certo dia, ao subir para explorar o mundo lá de cima, ela acaba conhecendo o rabugento Érnest, um urso que adora música e ganha a vida como artista de rua. O começo não á nada amigável, já que Érnest a encontra numa lata de lixo e tenta comê-la viva. No entanto, com o passar do tempo, os dois acabam formando uma forte e singela amizade.



A relação dos dois gera confusão entre o lado de cima e o lado de baixo da terra. Ratos não aceitam que outros ratos sejam amigos de ursos, e vice-versa. Apesar da sensibilidade do enredo, ele traz algumas críticas subentendidas, como por exemplo, o preconceito existente entre classes sociais, já que os ursos que estão acima ignoram o quanto podem a presença dos ratos. Isso fica evidente quando Celestine vai dormir em sua casa, e ele a faz ir para o porão para ficar um nível abaixo.

A fotografia traz aquarelas belíssimas e muito bem desenhadas a mão, o que é de fato louvável nos dias de hoje. Os diretores buscaram trazer a estória, tirada de uma série de livros infantis, quase como um conto de fadas. É uma animação na mais pura forma artística, e com requintes de poesia.



Por fim, num mundo onde os filmes de animação estão com efeitos e gráficos cada vez mais milionários, é gratificante descobrir animações como essa, feitas de forma simples e com sensibilidade acima de tudo. Ernest & Célestine vem chamando atenção nos festivais e realmente é um dos favoritos para chegar entre os finalistas do Óscar.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Crítica: Machete Mata (2013)


Robert Rodríguez conseguiu uma façanha única: fazer o trash virar pop. Seus filmes recheados com muito sangue, linguajar sujo, violência, humor negro e bizarrices afins, remetem muito às famosas Pulp Fictions do início do século 20, que também serviram de influência para outro cineasta da atualidade, seu amigo Quentin Tarantino. Juntos, os dois fizeram alguns dos filmes mais insanos do cinema moderno, como Um Drink no Inferno (1996) e Planeta Terror (2007).


Dirigindo solo, porém, Rodríguez é meio inconstante. Algumas vezes acerta, noutras erra feio. Mas quando acerta, saem coisas sensacionais como Sin City - A Cidade do Pecado (2005), e principalmente, Machete. Lançado em 2010, o primeiro filme da saga nos apresentava ao mal encarado Machete (Danny Trejo), um agente federal mexicano que na época foi contratado por um homem misterioso para matar um importante político americano.

Em Machete Mata (Machete Kills), o justiceiro está de volta, e dessa vez do lado do presidente dos Estados Unidos, Mr. Raghcock, interpretado por ninguém menos que Charlie Sheen. Sua missão é enfrentar um excêntrico e perigoso dono de cartel, que está planejando um ataque nuclear contra os Estados Unidos. Mas como já é de se prever, nada acontece como o planejado com Machete, e a trama vai nos levando a situações cada vez mais absurdas, sem nunca perder o espírito jocoso.


O enredo, apesar de bem construído, não foge muito dos clichês. No entanto, Rodríguez tem algo único, inexplicável, que faz com que eu ame nos seus filmes tudo aquilo que eu odeio em qualquer outra obra do gênero. É um exagero que convence, e que não busca brincar com a inteligência do espectador. 

Além do mais, o elenco é sensacional. Entre os nomes mais famosos que aparecem estão o de Cuba Gooding Jr., Mel Gibson, Antonio Banderas, Lady Gaga e Sofia Vergara. Além disso, ainda tem as "veteranas" da saga, Michelle Rodrigues e Jessica Alba, e um Danny Trejo impecável.


Sim, tudo em Machete Mata é propositalmente bizarro. De sutiãs que disparam como uma metralhadora a tripas humanas que são jogadas nas hélices de um helicóptero, nada é convencional. E é exatamente isso que faz de Rodríguez um dos diretores mais inventivos, extravagantes e singulares do cinema moderno. É um filme para puro entretenimento, para aqueles dias em que a gente não quer nada da vida, apenas esquecer de tudo e assistir um bom filme. Para quem gosta, vale a pena.


domingo, 24 de novembro de 2013

Recomendação de Filme #44

Harry, O Amigo de Tonto - Paul Mazursky (1974)

No Óscar de 1975, três nomes eram cotados como favoritos para ganhar o prêmio de melhor ator: Al Pacino por O Poderoso Chefão - Parte II, Jack Nicholson por Chinatown e Dustin Hoffman por Lenny. No momento do anúncio porém, uma surpresa: Art Corney, por Harry, O Amigo de Tonto (Harry and Tonto), foi quem levou o troféu para casa. Só o fato em si já é relevante o suficiente para que se queira ver esse filme do diretor Paul Mazursky, e posso garantir que vale muito a pena.
Na trama, acompanhamos Harry Combes (Art Carney), um senhor solitário que vive em um apartamento na região pobre de Manhattan apenas na companhia de seu gato, Tonto. Seu dia-dia consiste em dar uma volta pelas ruas da vizinhança, sempre com Tonto a tiracolo, e encontrar velhos amigos na praça local. Ele viveu a vida toda no mesmo prédio, e em alguns diálogos nostálgicos, ressalta como tudo tem mudado de uns tempos para cá. Esse seu sentimento piora quando ele tem que deixar o local porque o prédio vai ser demolido para a construção de um estacionamento.
Obrigado a ir morar com o filho, a nora, e os netos, e acreditando ser um estorvo para a família, Harry resolve viajar em direção à Chicago para se reencontrar com alguns fatos do passado. No entanto, acontecem várias confusões pelo caminho: ele não consegue embarcar num avião por causa do gato, e quando viaja de ônibus, é largado no meio da estrada após incomodar o motorista para que ele parasse, só porque Tonto precisava urinar.
Após se estabelecer na nova cidade, ele compra um carro e dá início a uma viagem sem precedentes, onde encontra uma gama de personagens interessantes. Entre eles Ginger (Melanie Mayron), uma jovem de 16 anos que fugiu de casa, além de uma prostituta e de um vendedor de gatos.
A cena mais marcante do filme talvez seja quando Harry reencontra um antigo amor que não via há 50 anos. Internada em uma clínica, e com problemas de memória, Jessie (Geraldine Fritzgerald) não o reconhece, mas ainda assim, os dois dançam como se fossem duas crianças.
O enredo é conduzido de forma poética, e conta com uma trilha sonora fantástica. Art Corney está realmente impecável no papel de Harry, e mereceu com pompas o Óscar recebido. Todos os outros personagens que aparecem no decorrer da história também são incrivelmente bem explorados pelo diretor, e cada um tem algo de único.
Por fim, não se trata apenas de um filme sobre a amizade entre um homem e um gato. É errôneo achar isso de início. O longa aborda muito mais, principalmente os sentimentos humanos ao chegar no fim da vida, como saudade, nostalgia, medo do futuro e dor pelos sonhos não realizados. Uma pequena obra-prima pouquíssima conhecida, mas de grandioso valor.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Crítica: O Capital (2013)


O cineasta grego-francês Constantin Costa-Gavras, conhecido por seus filmes polêmicos, traz em seu novo trabalho, O Capital (Le Capital), uma dura visão do mundo capitalista comandado pelo dinheiro, sobretudo a respeito das instituições bancárias que fazem o que bem entendem, geralmente de forma antiética, em nome de um lucro cada vez maior.


Quando o presidente do gigantesco Banco Phenix é diagnosticado com câncer, ele se vê obrigado a escolher um substituto temporário para comandar a instituição. Indo contra todos os seus acionistas e conselheiros ele acaba escolhendo Marc Tourneuil (Gad Elmaleh), um dos operadores financeiros mais respeitáveis apesar da pouca idade em relação aos colegas.

Marc assume e resolve dar uma cara nova para os negócios. Enquanto isso, tem de conviver com a hipocrisia dos colegas, e com toda a sujeira e a podridão existentes por trás do mundo dos negócios. Apesar de assumir o cargo pretendendo agir com ética, aos poucos ele vai sendo influenciado pelo mundo que o rodeia, e passa a se meter em uma série de armações que antes criticava.


Uma delas choca a todos: a demissão em massa de milhares de funcionários espalhados pelos 49 países onde o banco atua, em troca de bônus por cada demissão e de um aumento significativo nas ações. Tido como um "Robin Hood reverso", que tira dos pobres para dar aos ricos, ele vive sua vida rodeado de luxos e ostentações, como carrões, hotéis caríssimos, jatinhos e viagens.

A cena final resume todo o sentimento de que Costa-Gavras quis passar com o longa, quando Marc vira para a câmera sobre os aplausos dos colegas e declara: "São umas crianças. Crianças crescidas. Se divertem, e continuarão se divertindo, até que tudo exploda".


Com um enredo envolvente e complexo, Costa-Gravas consegue surpreender e segurar o espectador até o final, trabalhando uma estória sobre bancos e investimentos de forma atraente. É sem dúvida alguma um dos grandes filmes do ano, e o cineasta de 80 anos nos prova que ainda não perdeu sua qualidade.


quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Crítica: O Atentado (2013)


É cada vez mais notável, principalmente de uns anos para cá, o crescimento do número de produções de sucesso que se passam no Oriente Médio, principalmente os que abordam a "eterna" guerra entre Palestina e Israel. O Filho do Outro (Lorraine Levy, 2012), Aproximação (Amos Gitai, 2007), Lemon Tree (Eran Riklis, 2008) e Uma Garrafa no Mar de Gaza (Thierry Binisti, 2012) são bons exemplos dessa nova safra, que agora fica ainda mais interessante com o novo filme do diretor Ziad Duoeiri, O Atentado (The Attack), adaptação do best-seller de Yasmina Khadra.


Amin (Ali Suliman) é um conceituado médico palestino que mora em Israel, e que acabou de receber o prêmio máximo da categoria. No dia seguinte, enquanto está de plantão no hospital onde trabalha em Tel-Aviv, ele ouve uma explosão vinda de algum lugar da cidade, e logo os feridos começam a chegar em grande escala com ferimentos terríveis de mutilação.

Um dia depois, Amin é chamado no necrotério para reconhecer o corpo de alguém que a polícia alega ser sua mulher, Siham (Karim Saleh). Ao reconhecê-la, ele começa a enfrentar um pesado interrogatório, já que tudo indica que era ela quem estava carregando a bomba que explodiu em um restaurante, matando 17 pessoas entre crianças e adultos e ferindo mais dezenas.


O primeiro estágio, obviamente, é de negação. Ele não acredita que sua esposa poderia ter sido a causadora de tudo isso, afinal, ela nunca tinha demonstrado nada a respeito. O personagem começa a viajar nas lembranças do passado, desde quando eles se conheceram até os momentos felizes que viveram juntos, e fica cada vez mais difícil acreditar. No entanto, tudo muda quando ele recebe uma carta, escrita por Siham em vida, como forma de despedida e pedido de desculpas. É quando seu mundo verdadeiramente vai a baixo.

Ele parte em direção à Palestina para tentar descobrir o que foi que aconteceu e quem teria ajudado sua esposa a cometer o ato. Ao adentar no país vizinho, ele descobre que lá, do outro lado da fronteira, todos falam dela com orgulho, por ter feito um ato patriótico contra os "inimigos" vizinhos.


O filme traça um paralelo com casos de mulheres-bomba da vida real, e o quanto suas motivações são diferentes das dos homens. Enquanto eles fazem pela religião e pelo desejo de irem para o paraíso onde terão virgens ao seu dispôr, as mulheres geralmente fazem por puro descontentamento com a vida ou simplesmente para fugir de alguma humilhação desonrosa, como por exemplo, no caso de grávidas fora do casamento.

O final é lindo, e deixa uma dor no coração de quem assiste. Ziad Doueiri conta a estória com brilhantismo, e simplesmente não há o que criticar. Não é a toa que o filme recebeu o prêmio de melhor adaptação literária de 2013 na Feira do Livro de Frankfurt. Por fim, é muito bom perceber que o cinema ainda tem espaço para obras como essa, de tamanha sensibilidade, ainda que sejam pouco divulgadas.


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

5 filmes para refletir nesse Dia da Consciência Negra

A escravidão foi (e em alguns lugares ainda continua sendo, infelizmente) um dos piores crimes que a humanidade já cometeu contra seus semelhantes. Essa prática já existia desde a antiguidade, mas se proliferou a partir do século 15, onde os países mais ricos precisaram de mãe de obra barata para suas colônias recém conquistadas. Seja com índios, negros ou pessoas miseráveis, a escravidão dizimou famílias inteiras e limitou a liberdade dos envolvidos de forma desumana. E o pior, com aceitação de grande parte da população e da igreja católica.

A escravidão dos negros e as consequências que isso trouxe para os dias de hoje já foi abordado de diversas formas no cinema, principalmente como tratado contra a violenta segregação racial. Nesse dia da consciência negra, o Cinema Arte traz para vocês cinco bons filmes para refletir sobre o tema. Confira abaixo.

1. Amistad - Steven Spielberg (1997)


O navio negreiro La Amistad parte em direção aos Estados Unidos carregando um grupo de escravos vindos da África. No meio do caminho, dezenas desses escravos se libertam das correntes, e acabam iniciando um motim para tentar retornar ao local de onde partiram. No entanto, eles acabam sendo capturados por um navio americano, e após serem presos, são levados à julgamento. Do lado deles está o advogado Roger Baldwin (Mattew McConaughay), que junto com o ex-presidente John Quincy Adams (Anthony Hopkins), faz de tudo para libertá-los. O filme é uma obra-prima, e mostra com veracidade todos os horrores que esses pobres homens sofreram, desde a captura na localidade natal até o transporte desumano feito via oceano.

2. A Cor Púrpura - Steven Spielberg (1986)

Celie (Whoopi Goldberg), uma jovem de 14 anos violentada pelo pai, acaba se tornando mãe de duas meninas. Após o nascimento das crianças, ela é separada das duas para ser escrava de uma mulher (Danny Glover). Cada vez mais só e desamparada, ela começa a compartilhar sua tristeza através de cartas, primeiramente direcionadas à Deus, e depois à sua irmã Nettie (Akosua Busia). O filme choca pela realidade com que são mostradas as cenas brutais de violência contra escravos, não só física como mental.


3. Mississipi em Chamas - Alan Parker (1988)


Drama dirigido pelo experiente Alan Parker, o filme mostra a investigação que dois agentes do FBI, Rupert Anderson (Gene Hackman) e Alan Ward (Willem Dafoe), fazem a respeito da misteriosa morte de três militantes dos direitos civis. Ao chegar no local do crime, eles percebem que a cidade é dividida entre brancos e negros, num ambiente em que a segregação racial é levada até o mais alto nível de violência.


4. Histórias Cruzadas - Tate Taylor (2011)


Skeeter é uma jovem branca que possui o sonho de se tornar uma escritora de sucesso. Ela começa a entrevistar as mulheres negras da sua cidade, que deixaram suas vidas próprias para trabalhar cuidando da casa de pessoas de elite. As entrevistas desagradam a população em geral, principalmente por muitas vezes escancararem as atrocidades cometidas por essas pessoas. Porém, mesmo com medo, aos poucos a adesão das escravas ao livro vai crescendo.

5. Django Livre

De forma humorada, mas não menos chocante, o diretor Quentin Tarantino nos traz em Django Livre (Django Unchained) a estória de Django (Jamie Foxx), um escravo liberto que parte em busca de vingança e, principalmente, de capturar sua esposa Broomhilda, que ainda permanece escrava do inescrupuloso Calvin Candie (Leonardo DiCaprio). As cenas de violência com escravos são super realistas, e apesar da atmosfera divertida que envolve o enredo, é um longa que dói como um soco no estômago.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Crítica: A Grande Beleza (2013)


Depois da aventura pelo cinema americano com o entediante Aqui é o Meu Lugar, o diretor italiano Paolo Sorentino volta ao cinema italiano com A Grande Beleza (La Grande Belezza), filme que vem conquistando diversos prêmios e críticas positivas por onde passa.



Na trama acompanhamos Jap Gambardella (Toni Servillo), um jornalista que há alguns anos atrás lançou um livro famoso, "O Aparato Humano", tido por muitos como uma obra-prima. No entanto, após esse livro ele não escreveu mais nenhuma outra obra, e já idoso passa a refletir sobre o que fez e o que não fez da vida.

Entre festas da alta sociedade e pequenos luxos, ele encontra outras pessoas da mesma idade que vivem o mesmo dilema de tentar, ainda que tarde, descobrir um sentido para a vida. Alguns pagam milhões para que uma cirurgia plástica faça com que aparentem a juventude que perderam, enquanto outros se afogam no mundo das drogas e do sexo.

Jap não sente mais nenhum apreço pela vida, principalmente por ver toda a futilidade que o envolve diariamente. Quando ele conhece uma freira de 104 anos de idade que continua com a mente saudável, ele passa a enxergar um novo rumo e reencontra até mesmo a vontade de escrever.



O ponto alto sem dúvida alguma são os diálogos, existencialistas ao extremo. Fazemos uma viagem junto de Jap aos mais profundos sentimentos nostálgicos, além de digressões sobre o comportamento humano. A trilha sonora é encantadora, e a fotografia de Roma também é impactante (irei lembrar para sempre a vista da varanda de Jap, de frente para o gigantesco Coliseu). Destaque ainda para a atuação sempre precisa de Toni Servillo.

No entanto, nem tudo são flores. Achei a tentativa do diretor de tentar elevar o filme a um nível de obra de arte bastante enfadonha. Suas passagens oníricas e metafóricas acabam ficando desgastantes no desenrolar da estória, e o filme às vezes parece não ter um foco preciso.



Apesar de algumas cenas memoráveis e alguns momentos sublimes, A Grande Beleza deixa um pouco a desejar no resultado final, e não me cativou. Candidato italiano ao próximo Óscar de melhor filme estrangeiro, ele é um dos fortes concorrentes, mas entre os finalistas é de longe o que menos gostei.


domingo, 17 de novembro de 2013

Recomendação de Filme #43

Ratos e Homens (Gary Sinise) - 1992

Baseado no livro de John Steinbeck, Ratos e Homens (Of Mice and Men) se passa em 1929 durante a Grande Depressão nos Estados Unidos, período que já havia sido abordado pelo mesmo autor no outro sucesso As Vinhas da Ira, adaptado em 1940 por John Ford.

Sob direção de Gary Sinise, o longa conta a história dos amigos George e Lennie, dois caipiras que buscam emprego em um país devastado pela crise financeira. Ambos são homens simples, sem estudos, que trabalham em fazendas e sobrevivem com aquilo que tem à disposição (geralmente uma cama em um estábulo e uma comida).
Lennie, apesar da força e da estatura elevada, possui uma doença que o faz ter uma mentalidade de criança.  George por consequência tem que cuidar dele a todo momento, principalmente para evitar que ele se meta em confusão. Por conta da doença, Lennie possui uma sensibilidade extrema. Isso fica evidente no seu trato com os animais, tanto os cachorros da fazenda, quanto o rato morto que ele insiste em carregar no bolso.
Apesar do cenário indicar uma total falta de esperança, os dois nunca largam o sonho de sair dessa vida e ter sua própria terra, seu próprio lar. São tocantes os diálogos que eles mantém sobre isso, principalmente se pensarmos que o que eles queriam era tão pouco, e mesmo assim inatingível.
A dificuldade de Lennie em perceber o que é certo e o que é errado, além da falta de controle sobre suas ações, acaba resultando em confusões por onde passam, principalmente quando se trata de mulheres. Lennie acaba ficando encantado com a jovem esposa do filho do fazendeiro (Sherilyn Fenn), e mesmo que de forma inocente, acaba levando a um trágico final.

Por fim, Ratos e Homens é uma linda lição de amizade. George e Lennie se completam em quase tudo, precisando um do outro para se manterem vivos como nós precisamos de oxigênio. Sonhos, ambições, amizade e preconceito. Tudo tratado com maestria, que faz com que o filme seja uma verdadeira obra-prima.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Crítica: Frances Ha (2013)



O cinema independente dos Estados Unidos traz a cada ano boas surpresas. São os típicos filmes que fogem do público em geral, mas que acabam sempre arrancando elogios em festivais pelo mundo a fora, e Frances Ha, do diretor Noah Baumbach, não foge dessa característica. 




A trama mostra a estória de Frances (Greta Gerwin), uma jovem assistente de uma companhia de danças que divide um apartamento com a melhor amiga Sophie (Mickey Sumner). Engajada a dar uma nova cara para a vida após o término de mais um relacionamento amoroso, ela passa seus dias buscando um sentido pra vida, seja na dança, seja nos amigos ou mesmo em viagens.

Depois que Sophie resolve se mudar para um apartamento novo na companhia de outra amiga, Frances se vê sozinha, e passa a morar com os amigos Benji e Patch. Após ser demitida do emprego, ela vai cada vez se afundando mais, porém, sem nunca deixar de levar a vida com graça e desenvoltura. Ela não se deixa abalar pelas coisas ruins, mesmo que para isso tenha que mentir para si mesma.



A fotografia em preto-e-branco já deixou de ser algo original, já que muitos diretores vem empregando isso nos seus filmes mais atuais. No entanto, coube bem nesse filme, e com certeza trata-se de um dos pontos altos da obra. As atuações são singelas e consistentes, e Greta Gerwig está muito bem no papel da jovem sonhadora. É um filme com um tema melancólico, mas o diretor resolveu dar um chega para lá na tristeza, e filmou tudo com muita leveza. Para finalizar tem a trilha sonora, que é apaixonante, relembrando alguns clássicos dos anos 80.

É um filme que aborda de forma natural alguns fatos da vida. Passa a ser ainda mais interessante por trazer algumas questões palpáveis a todos nós, como aquele sentimento que as vezes nos atinge de não saber bem o que queremos da vida. Como uma das boas surpresas desse ano, Frances Ha é um filme leve que merece ser visto por todos.



Woody Allen: de Nova York para o Mundo.


Com 77 anos de idade, e às vésperas do lançamento de seu 46º filme como diretor, Woody Allen parece estar mais ativo do que nunca. Mais do que isso, demonstra não ter perdido nada da capacidade criativa que possui desde o início da carreira.

Allen em foto anual do
Liceu onde estudou.

Nascido em Nova York no dia 1° de Dezembro de 1935, Allan Stewart Königsberg (seu nome de batismo) cresceu nas ruas do Brooklyn, e sofreu com uma educação conservadora por conta da família de judeus ortodoxos. Como válvula de escape, desde novo já trabalhava no mundo do entretenimento, para poder ter sua própria renda. Com 15 anos, e já usando o nome pelo qual viria a ser conhecido, ele escrevia para colunas de jornais e programas de rádio, ao mesmo tempo em que estudava filosofia na Universidade de Nova York, não chegando a terminar após ter sido expulso. Autodidata, Allen estudou sozinho comunicação, cinema e escrita, chegando inclusive a dar aulas após um tempo.

Sua carreira no show business começou ainda na década de 50, quando passou a fazer shows e peças teatrais de comédia ao redor do país. Em 1964, ele já era um respeitável comediante, e chegou a ter um disco com gravações de shows indicado ao Grammy. Dali
Woody Allen na década de 60.
para o cinema foi um pulo, e no ano seguinte ele já fazia sua estreia no ramo cinematográfico como ator, no filme O Que é Que Há, Gatinha? (What's New Pussycat?) do diretor Clive Donner, que parodiava os filmes de James Bond.

Como diretor, Woody Allen estreou em 1966 com O Que Há, Tigresa? (What's Up, Tiger Lily?). A comédia era composta de cenas originais de um filme de espionagem japonês da época, mas com os diálogos trocados, mostrando uma busca incessante pela receita perfeita de salada de ovos. Em seguida veio Um Assaltante Bem Trapalhão (Take the Money and Run), comédia pastelão sobre um assaltante medíocre, que parodiava grandes bandidos conhecidos nos Estados Unidos como Jesse James, Butch Cassidy e Sundance Kid. Essa foi a primeira vez que Allen roteirizou, dirigiu e atuou em um filme seu, o que viria a ser uma das suas principais características.

A partir desse período, Allen obteve uma média invejável de quase um filme por ano, o que resulta numa das carreiras cinematográficas mais produtivas da história do cinema. Prosseguindo no gênero satírico, dirigiu em 1971 o filme Bananas (Bananas), uma comédia de humor negro que trazia no enredo uma forte crítica às ditaduras latino-americanas, à intervenção americana nos países subdesenvolvidos, e ao sensacionalismo por parte da imprensa.


Cena de Bananas (1971).

Na sequência, Woody Allen dirigiria Tudo Que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo - Mas Tinha Medo de Perguntar (Everything You Always Wanted To Know About Sex - But are Afraid to Ask), O Dorminhoco (Sleeper) e A Última Noite de Bóris Grushenko (Love and Death), mais três comédias no velho estilo sarcástico do diretor, com destaque para o segundo, onde ele brinca com o gênero da ficção-científica.

Seu primeiro grande sucesso porém, veio somente em 1977 com Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall). O filme, que segue a vida de um casal cheio de neuras e crises, foi agraciado com quatro Óscar (filme, roteiro, atriz e direção) e até hoje é visto como seu melhor trabalho por grande parte dos admiradores e críticos. Foi também uma das suas primeiras parcerias com a atriz Diane Keaton, com quem viria ter um relacionamento amoroso também fora das telas, e depois uma amizade que dura até os dias de hoje.


Allen e Keaton em cena pelo cultuado Noivo Neurótico, Noiva Nervosa.
Detalhe no cartaz atrás de um filme do Ingmar Bergman, uma das grandes influências de Allen.
O premiado longa serviu para abrir uma sequência de filmes introspectivos do diretor, com diálogos afiados e enredos complexos, que traziam muito da influência de Ingmar Bergmann em seu trabalho. O primeiro foi Interiores (Interiors), um drama bastante denso sobre uma família de Manhattan abalada após o pai decidir sair de casa para ir morar com outra mulher. 

Pôster de Manhattan,
sucesso de 1979.
No ano seguinte ele lançou Manhattan (Manhattan), a primeira grande homenagem de Allen à cidade onde nasceu e cresceu, que trazia a atriz Mery Streep no papel principal. Aliás, Nova York é o pano de fundo de grande parte dos seus filmes, sendo uma marca registrada do cineasta.

Outra marca é que, maioria absoluta de seus filmes, Allen costuma encarnar um judeu nova iorquino neurótico, com pinta de artista, e fracassado com as mulheres. Os temas, aparentemente repetitivos, se dividem entre otimistas e pessimistas, provavelmente refletindo o estado de espírito do diretor na hora de escrever o enredo.


Anos 80

Em 1980, foi lançado Memórias (Stardust Memories), talvez o filme mais reflexivo e emblemático de Woody Allen. A trama aborda a vida de um cineasta conhecido mundialmente por suas comédias, mas que está cansado de ser engraçado, e à beira de um ataque de nervos passa a rever seus filmes buscando um significado no trabalho e na vida. Qualquer semelhança com a vida pessoal do diretor não é mera coincidência, o que faz o filme ser talvez o mais biográfico da sua carreira.


Em cena pelo filme Memórias (1980).

Após essa pequena e expressiva fase dramática, Allen voltaria ao gênero da comédia com quatro filmes: Sonhos Eróticos de Uma Noite de Verão (A Mindsummer Night's Sex Comedy), Zelig (Zelig), Broadway Danny Rose e A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo), esse último o melhor dentre eles.

No entanto, o final da década de 80 marcou um novo retorno do diretor ao drama, onde ele explorou seus temas preferidos como a cidade de Nova York, a religião Judaica, a Psicanálise e a burguesia intelectual. Hannah e Suas Irmãs (Hannah and Her Sisters)Setembro (September), A Era do Rádio (Radio Days) e A Outra (Another Woman) foram suas próximas obras, que abordavam de formas diferentes a relação conturbada de algumas famílias de classe média americana.


Em 1989, Woody Allen participou de um projeto em conjunto com os cineastas Francis Ford Coppola e Martin Scorsese. O filme Contos de Nova York (New York Stories) consistia em três pequenos curtas com a cidade de Nova York como tema central, e cada um dos diretores foi responsável pela direção de uma das histórias. No mesmo ano, ele dirigiu Crimes e Pecados (Crimes and Misdemeanors), um filme denso e ao mesmo tempo carismático, que abordava a infidelidade no casamento.

Anos 90


Woody Allen abriu a década de 90 com Simplesmente Alice (Alice), levemente inspirado em Julieta dos Espíritos, de Fellini. Aliás, a referência que ele faz ao cinema clássico de cineastas como Ingmar Bergman, Federico Fellini e Groucho Marx é uma das suas principais características, sobretudo com o uso insistente de um tom reflexivo e existencial em grande parte de seus enredos.

Em 1992, Allen lançou dois filmes em sequência: o suspense Neblina e Sombras (Shadows and Fog), uma homenagem declarada ao expressionismo alemão de Fritz Lang e F. W. Murnau, e Maridos e Esposas (Husband and Wives), comédia dramática abordando novamente a vida de um casal da classe média.

O meio da década de 90 marcou o retorno de Woody Allen ao gênero das paródias. Nos dois anos seguintes, ele lançaria comédias abordando temas policiais: Um Misterioso Assassinato em Manhattan (Manhattan Murdes Mistery), inspirado em uma série de televisão policial, e Tiros na Broadway (Bullets Over Broadway)Em 1995 lançou Poderosa Afrodite (Mighty Aphrodite), e no ano seguinte, se embrenhou no mundo dos musicais com Todos Dizem Eu Te Amo (Everyone Says I Love You).

De 1997 a 2002, Allen continuou na média de um filme por ano, mas sem lançar nenhum significativo, nessa que talvez tenha sido uma das suas piores fases criativas. Esse período chegou ao fim com Dirigindo no Escuro (Hollywood Ending), lançado em 2002, que trazia uma crítica singela ao mandos e desmandos dos estúdios durante um processo de criação, que às vezes chegam a recriar um filme inteiro de um diretor.


Anos 2000


Melinda e Melinda (Melinda and Melinda), lançado em 2004, pode ser considerado um divisor de águas na sua carreira. Foi a partir dele que os trabalhos do diretor passaram a ganhar maios maturidade e foi onde ele começou a trabalhar com atores mais conhecidos e diversos fora dos Estados Unidos. 

No ano seguinte ele lançaria Ponto Final (Match Point), um dos seus primeiros filmes gravados na Inglaterra, e também uma das suas primeiras parcerias com a  atriz Scarlett
Estátua de Woody em
Oviedo, na Espanha.
Johansson. E
le voltaria a trabalhar com Johansson em Scoop - O Grande Furo (Scoop), que ainda tinha Hugh Jackman no elenco. Em 2007, ele se aventurou novamente no mundo do suspense com O Sonho de Cassandra (Cassandra's Dream), com nomes como Ewan McGregor e Colin Farrel no elenco. 

O ano de 2008 ficou marcado como o início da aventura européia de Woody Allen, onde ele passou a filmar seus filmes em diferentes países do continente, como Vicky Cristina Barcelona (Espanha), Meia-Noite em Paris (França) e Para Roma com Amor (Itália). No meio deles, ele lançou o excelente Tudo Pode Dar Certo (Whatever Works). Seu próximo filme em território europeu já tem nome e local: Magic in the Moonlight, que será filmado no sul da França.

Junto com a espanhola Penélope Cruz, uma das suas principais musas.

No entanto, antes disso, tem a estreia do esperado Blue Jasmine, com a atriz Cate Blanchett como protagonista. Elogiado nos principais festivais de cinema ao redor do mundo, a data prevista para o filme chegar ao brasil é 15 de novembro desse ano.


Woody Allen vs. Premiações
Sua única participação no Óscar, em 2002.

Já é conhecido o costume do diretor de não comparecer às premiações anuais, como Óscar, Globo de Ouro e outros, sempre deixando o anunciante do prêmio constrangido na hora de dizer seu nome. Allen já recebeu 4 Óscars ao longo da carreira, um de melhor diretor (Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) e três de melhor roteiro original (Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Hannah e Suas Irmãs e Meia-Noite em Paris), porém, sua única aparição na cerimônia foi em 2002, quando a academia fez uma homenagem à cidade de Nova York, um ano após os atentados às torres gêmeas.


Atrizes com quem mais trabalhou

É notável a preferência que Woody Allen sempre teve e ainda tem das personagens femininas. Por isso mesmo, foram as mulheres que sempre chamaram a atenção em seus enredos, e foi com quem consequentemente o diretor mais trabalhou. A atriz Mia Farrow foi sua principal parceira, e participou de todos os filmes enquanto os dois estavam casados. Confira abaixo em números algumas das atrizes que mais contracenaram em seus filmes.

Mia Farrow (13 filmes): Sonhos Eróticos de uma Noite de Verão, Zelig, Broadway Danny Rose, A Rosa Púrpura do Cairo, Hannah e Suas Irmãs, A Era do Rádio, Setembro, A Outra, Crimes e Pecados, Contos de Nova York, Simplesmente Alice, Neblina e Sombras e Maridos e Esposas.

Diane Keaton (7 filmes): O Dorminhoco, A Última Noite de Bóris Grushenko, Noivo Neurótico Noiva Nervosa, Interiores, Manhattan, Um Misterioso Assassinato em Manhattan e A Era do Rádio.

Louise Lasser (5 filmes): O Que Há, Tigresa?, Um Assaltante Trabalhão, Bananas, Tudo Que Você Queria Saber Sobre Sexo (Mas Tinha Medo de Perguntar) e Memórias.



Scarlett Johansson (3 filmes): Match Point - Ponto Final, Scoop: O Grande Furo e Vicky Cristina Barcelona.



A Conturbada vida amorosa
Woody Allen e sua atual esposa, Soon-Yi.

A vida amorosa de Allen sempre deu o que falar à imprensa. Antes mesmo de atingir a fama, ele já havia passado por dois casamentos, e em consequência, por dois divórcios conturbados na justiça. Após a fama, namorou várias atrizes importantes, que acabavam ganhando o papel principal de seus filmes, até se firmar com Mia Farrow, com quem ficou casado 17 anos. O casamento terminou quando Allen iniciou um relacionamento com Soon Yi, filha adotiva de Mia, que tem 37 anos a menos que ele (na época tinha 17). Para surpresa de todos, o casamento dos dois dura até o momento.


Os Hobbies

Fora do cinema, Allen possui uma vida bem agitada. Ele não nega suas duas principais paixões: o basquete e o jazz. Ele declarou em uma entrevista que se tiver que escolher entre gravar um filme e ver um jogo do New York Knicks, ele opta pela segunda opção. A respeito do jazz, Allen é um exímio clarinetista, e toca constantemente em público desde os anos 60 com sua banda, a New Orleans Jazz Band.



Com um humor ácido e contagiante, a obra de Woody Allen é capaz de trazer uma enorme gama de sentimentos à respeito das relações humanas. Seja sendo um pessimista com esperanças, um comediante com ares de tristeza, um filósofo que odeia intelectuais, ou um tímido que se expõe em cena, Allen é certamente uma das figuras mais contraditórias do cinema. Seus personagens trazem, na maioria das vezes, seus medos e suas frustrações da vida real, tendo em cada um algo de auto-biográfico. O certo é que nós, espectadores do seu trabalho, muitas vezes nos identificamos com seus filmes, e é isso que ajuda a aproximá-los ainda mais de nós.

Por fim, é com grande prazer e carinho que escrevi esse artigo. Allen não é uma figura perfeita, e como todo ser-humano, possui seus defeitos. Mas a respeito de sua obra cinematográfica, não há o que contestar. Certamente um nome que já entrou pra história, e nunca será esquecido.