sexta-feira, 9 de maio de 2014

Crítica: O Enigma Chinês (2014)


Será que a vida é mesmo complicada, ou nós é que a complicamos? Essa é uma questão que me surgiu durante os créditos finais de O Enigma Chinês, novo filme do diretor Cédric Klapish (O Albergue Espanhol / Bonecas Russas). E talvez tenha sido justamente essa a sua intenção: nos fazer questionar sobre a inconstância da vida e mostrar que isso nunca pode virar motivo para desespero.



O escritor Xavier Rousseau (Romain Duris) é um verdadeiro descontente com a vida que leva. Aos 40 anos de idade, ele acaba de romper um casamento de 10 anos com Wendy (Kelly Reilly), onde teve dois filhos e uma vida aparentemente feliz. Para piorar, Wendy está se mudando para os Estados Unidos onde conheceu outro homem, e quer levar junto as crianças.

No mesmo dia em que Xavier está lançando um livro de sucesso, Wendy parte com os filhos para o novo país, deixando o mesmo completamente desolado. Como alternativa, ele também decide partir para a América na tentativa de ganhar a vida por lá e principalmente poder conseguir acompanhar mais de perto o crescimento dos pequenos.



Ele acaba sendo acolhido pela amiga Isabelle (Cécile de France), uma lésbica que mora com sua namorada Ju (Sandrine Holt). Enquanto passa a cuidar dos filhos em finais de semanas, Xavier luta para conseguir alugar um apartamento na metrópole americana, mas a dificuldade aparece quando seu advogado informa que ele precisa urgentemente casar com uma americana para poder seguir morando no país.

Após algumas confusões, que incluem um complicado reencontro com o pai e um atropelamento dentro de um táxi (entre outras coisas malucas que parecem só acontecer com o personagem), ele acaba conhecendo uma família de descendentes chineses e inventando um casamento com a filha deles. Nesse ínterim, ainda surge na história Martine (Audrey Tautou), uma solteirona que era uma grande amiga de Xavier na França e que passa a dividir apartamento com ele.



O filme possui um humor diferenciado. Uma das cenas mais curiosas e engraçadas é quando Xavier, em meio a devaneios, começa a "conversar" com os filósofos alemães Shoppenhauer e Hegel, buscando em suas palavras o alívio para cada situação. Essa constante busca do personagem pela resolução de seus problemas nos faz pensar em quanto tempo de nossas vidas perdemos apenas resolvendo coisas, ao invés de viver a vida da forma mais plena.

O elenco é muito bom, e cada personagem tem sua particularidade bem trabalhada. Roman Duris, que já trabalhou em diversas produções do diretor, tem uma excelente participação, assim como a experiente Audrey Tautou. Dos menos conhecidos, quem chama a atenção é Cécile de France, a melhor amiga de Xavier.

A técnica é a mesma utilizada nos outros dois filmes de sucesso de Klapish, O Albergue Espanhol e Bonecas Russas, onde os fatos acontecem de forma natural, criando uma aproximação maior com quem assiste. O único ponto negativo é o ritmo, que no começo me prendeu mas à medida em que foi se aproximando do final, acabou deixando um pouco a desejar.


Apesar de trazer diversas discussões sobre a vida, ele não é um filme pretensioso, e muito menos existencialista. É um filme leve, do tipo que não vai mudar nada na sua vida, mas quem disse que o cinema não é feito de filmes assim? Com certeza vale a pena dar uma chance e assistir mais essa pérola do cinema francês.


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