sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Crítica: O Lobo Atrás da Porta (2014)


Silvia (Fabíula Nascimento) sai de casa para buscar sua filha pequena na creche em mais um dia normal de sua rotina, mas quando chega no local descobre que alguém se passou por ela e buscou a criança mais cedo. Desesperada, leva o caso até a polícia, que logo abre um inquérito para descobrir a verdade por trás desse suposto sequestro. Esse é só o começo de uma longa história.


Bernardo, marido de Silvia e pai da menina, também é chamado para depôr, e fala para o policial que acredita ter sido obra de sua amante, Rosa (Leandra Leal). Chamada na delegacia, ela nega veemente qualquer culpa no caso, mas é reconhecida pela dona da creche. Isso é só o começo de um jogo de gato e rato, e aos poucos vamos descobrindo toda a história por trás.

Em novo depoimento, Bernardo começa a contar como conheceu Rosa na estação Osvaldo Cruz do metrô. Trabalhando como fiscal em uma empresa de transportes urbanos, Bernardo via no relacionamento uma fuga do casamento sem graça, que já saturou com o tempo. Mais do que isso, ele declara abertamente ao policial que isso é coisa de homem, em um machismo declarado, como se isso fosse comportamento normal de todos.


Aliás, é interessantíssima a figura do policial na história, interpretado muito bem por Juliano Cazarré. Ouvindo as histórias de cada um e suas diferentes versões, ele vai ligando os pontos junto com o espectador, sempre de maneira sínica e até mesmo engraçada. Ao ser chamada novamente para depôr, Rosa decide contar ao policial toda a sua versão de como conheceu Bernardo. Numa série de reviravoltas, ela resolve abrir o jogo de vez, contando nos mínimos detalhes tudo que aconteceu, inclusive que fim levou a criança. Não conto aqui para não estragar a surpresa, mas posso garantir que os minutos finais vão te deixar incrédulo. O ser-humano, no desespero, pode tomar atitudes extremas, e a cena final deixa um aperto enorme no peito.

O que mais chama a atenção no longa são as atuações. Rosa é uma personagem dúbia, hora sexy e desejável, hora inocente e ingênua, e Leandra Leal consegue transpôr essa personalidade com primor. Milhem Cortaz também está excelente ao encarnar um personagem repugnante, que personifica o homem que trabalha duro para dar sustento à família mas que dentro de casa não dá atenção devida. Por fim, tem Fabíula Nascimento, no papel da mãe de família que vive no seu mundinho cômodo e que se agarra a qualquer coisa que lhe possa trazer um pouco de felicidade.


O enredo de O Lobo Atrás da Porta é impecável e não deixa furos, segurando o suspense até os momentos finais. É certamente um dos melhores filmes nacionais do ano, se não for o melhor, e merece todos os elogios que recebeu ao longo do ano em diversos festivais.

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