sexta-feira, 28 de novembro de 2014

20 temas instrumentais inesquecíveis do cinema.

Desde que o cinema foi projetado e lançado pelos irmãos Lumière no final do século 20, que as trilhas ganharam papel importante nas produções, sendo muitas vezes a marca registrada de um filme. Nas primeiras décadas, no entanto, as trilhas eram tocadas ao vivo enquanto o filme passava na tela, geralmente interpretadas de improviso por uma orquestra ou um musicista solo. O problema é que era bastante difícil haver uma sincronia entre a imagem e o som, o que muitas vezes atrapalhava o andamento do filme.

Somente a partir da década de 20 que os filmes começaram a ganhar suas trilhas exclusivas, e o trabalho dos compositores passou a ser de extrema importância. Grandes nomes, ao longo dos anos, ficaram conhecidos por seus trabalhos impressionantes, como o do italiano Ennio Morricone, do canadense Howard Shore e do norte-americano John Williams. No Óscar, a categoria de melhor trilha começou a ser disputada em 1938, onde As Aventuras de Robin Hood conquistou a estatueta.

Tomei a liberdade de listar abaixo 20 temas musicais que para mim são os melhores de todos os tempos. Alguns são tão apaixonantes, que é Impossível não ouvi-los sem sentir vontade de rever cada um desses filmes. Vamos a ela:

1. E O Vento Levou, de Max Steiner

Além da trilha sensacional de E O Vento Levou, Max Steiner também é responsável por outras trilhas clássicas como King Kong, Casablanca e Rastros de Ódio. No entanto, é no clássico dirigido por Victor Fleming e protagonizado por Clark Gable e Viven Leigh, que ele tem sua obra-prima definitiva.


2. Três Homens em Conflito, de Ennio Morricone

Uma das maiores trilhas da história do cinema, isso se não for a maior! Empolgante, bonita e totalmente conectada com o que vemos em cena, o tema principal do filme é referência até hoje quando se fala em filmes de faroeste.

3. O Poderoso Chefão, de Nino Rota

Parceiro de longa data de Federico Fellini, Nino Rota foi a escolha ideal para fazer a trilha de uma produção americana muito italiana. Da primeira cena a última, é primoroso o trabalho do compositor, e a trilha é apenas um ingrediente a mais nesse que é um dos maiores filmes de todos os tempos.


4. Star Wars, de John Williams

O trabalho de John WIlliams em Star Wars talvez seja o mais impressionante da sua carreira. Não apenas pelo inesquecível tema principal, mas também por outras músicas marcantes, como a famosa Marcha Imperial.


5. Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, de John Williams

O que dizer do tema sonoro de Indiana Jones? É tão marcante que basta ouvi-lo para logo vir as imagens do filme na cabeça. É impossível alguém na face da terra que não a conheça, ainda que não tenha assistido o longa.


6. O Senhor dos Anéis, de Howard Shore

A trilha sonora de O Senhor dos Anéis pode não ter aquela batida que fica na cabeça, mas não precisa disso para ser considerada excelente. Shore conseguiu uma junção de composições que seguem o espírito de fantasia e aventura épica, e possui canções belíssimas como a trilha do condado.

7. Coração Valente, de James Horner

For the Love of a Princess é até hoje uma das músicas que mais me emociona e me causa arrepios. A música folclórica escocesa combina de forma primorosa com a história desse que é um dos melhores filmes dos anos 90.


8. ET - O Extraterrestre, de John Williams

Grande sucesso dos anos 80, E.T. - O Extraterrestre tem uma trilha belíssima. A música tema é empolgante e simplesmente inesquecível, e toca o coração do espectador desde os primeiros acordes.


9. Jurassic Park, de John Wiliams

Mais um trabalho memorável de John Williams. Envolvente, impactante e bela, a trilha de Jurassic Park ajuda a fazer do filme um jovem clássico.


10. 007, de Monty Norman e John Barry

John Barry foi o compositor que mais trabalhou na franquia de James Bond, mas foi Monty Norman que fez o clássico tema do personagem. Por anos, Barry lutou na justiça pedindo crédito como coautor, uma vez que ele teria contribuído para a composição, mas a Corte Britânica decidiu, no início dos anos 2000, que Norman foi o verdadeiro autor e que Barry fez apenas um arranjo a partir da composição original. Disputas a parte, o fato é que a trilha sonora de 007 é marcante ao extremo.


11. Carruagens de Fogo, de Vangelis

O filme em si não é tão bom, mas trouxe uma das maiores contribuições sonoras da história do cinema. A trilha de Carruagens de Fogo virou referência e inspiração para momentos de superação.


12. Por Um Punhado de Dólares, de Ennio Morricone

O famoso assobio em conjunto com outros elementos sonoros fazem do tema principal de Um Punhado de Dólares mais uma obra-prima de Morricone.


13. Psicose, de Bernard Herrmann

Herrmann fez as trilhas marcantes de Um Corpo Que Cai e Intriga Internacional. Mas foi com Psicose que a parceria entre o compositor e o diretor Alfred Hitchcock encontrou seu ponto mais alto.


14. Superman, de John Williams

Superman é um clássico dos filmes de super-heróis e já ganhou inúmeras regravações dos anos 70 para cá. Mas a primeira e mais nostálgica se diferencia das outras por ter nos apresentado a trilha que marcou para sempre como tema clássico do super-herói. Como se não bastasse Star Wars, E.T, Indiana Jones e Jurassic Park, Williams tem mais essa obra brilhante no currículo.


15. Forrest Gump, de Alan Silvestri

Forrest Gump Suite é o tema principal desse filme espetacular, dirigido por Robert Zemeckis. O trabalho de Alan Silvestri é primoroso.


16. Platoon, de Samuel Barber

Para muitos, Platoon é o melhor filme de guerra já feito na história do cinema, e muito disso se deve a trilha sonora impactante de Samuel Barber.


17. Era Uma Vez no Oeste, Ennio Morricone

Mais uma trilha do italiano Morricone. Seu trabalho em Era Uma Vez no Oeste impressiona do início ao fim, e o tema principal é só mais um entre tantos que mudaram para sempre os filmes do gênero.


18. 2001: Uma Odisseia no Espaço

A ópera Also Sprach Zarathustra, de Richard Strauss, nunca mais foi vista da mesma forma após 2001: Uma Odisseia no Espaço. Apesar de não ter sido feita originalmente para o filme, ela se encaixou perfeitamente nesse clássico da ficção científica.

19. Barry Lyndon, de Franz Schubert

Barry Lyndon é um dos melhores filmes de Stanley Kubrick, sendo perfeito em quase tudo, desde a fotografia às atuações. E a trilha sonora não poderia ser diferente. Apesar de não ter um tema exclusivo, ela é composta por diversas músicas clássicas.

20. Requiem Para um Sonho, de Clint Mansel

A trilha sonora de Requiem Para um Sonho vai crescendo junto com a trama, e se torna sufocante no final. O brilhante trabalho de Clint Mansel só ajuda o filme a ser um dos melhores das últimas duas décadas.

Crítica: Interestelar (2014)


Christopher Nolan se tornou nos últimos anos um dos diretores mais respeitados de Hollywood. Desde seu primeiro sucesso Amnésia, lançado em 2000, ele coleciona uma elogiável lista de filmes, como a trilogia Batman - Cavaleiro das Trevas, o contraditório O Grande Truque e o enigmático A Origem. Em 2014 seu nome volta à tona com a superprodução Interestelar, talvez seu filme mais ambicioso até então, que vem chamando bastante atenção da crítica.



O enredo começa contando a história de Cooper (Matthew McConaughey), um fazendeiro viúvo que vive com seu pai e seus dois filhos numa fazenda enquanto cuida de sua lavoura de milho, atormentada pelas constantes tempestades de poeira que vem atingindo a Terra. Num futuro de data incerta, o nosso planeta está sofrendo de um grande mal que acabou com quase todas as reservas de comida, gerando uma enorme crise mundial.

Temendo pela extinção da espécie, um grupo de astronautas é enviado para além da galáxia para explorar outros planetas e tentar encontrar algum que possua as mesmas características da Terra e possa abrigar uma nova colônia de humanos. Sem querer, Cooper acaba sendo o responsável por comandar a equipe, por conta de sua experiência anterior como piloto da NASA, mesmo que para isso acabe tendo que deixar a família sob risco de nunca mais vê-la.



A partir de então, entramos numa verdadeira odisseia pelo espaço, sendo impossível não compará-lo ao grande clássico de Kubrick ou até mesmo a Solaris, de Tarkovski. No entanto, dessa vez Nolan vai muito mais longe do que qualquer um havia ido, fazendo com que a Sonda espacial atravesse a nossa galáxia e vá para outras, o que parece hoje humanamente impossível (até que se prove o contrário).

Mas Nolan usa durante todo o filme teorias de físicos conceituados, e absolutamente nada passa sem explicação. Diferente de A Origem, onde todos ficamos com um ponto de interrogação gigantesco na cabeça após o final, aqui tudo é explicado nos detalhes. Isso acaba cansando a segunda parte do filme, pois são muitas informações científicas, mas de fato elas são importantíssimas pro andamento.



O começo mais humanista, do pai de família cuidando dos filhos, contrasta com o final teórico. A relação espaço-tempo permeia todo o filme, assim como a multimensionalidade. A cena mais magnífica do filme para mim é quando Cooper recebe, no espaço, mensagens de seus filhos. Como a passagem do tempo acaba sendo diferente para quem está na Terra e para quem está no espaço, Cooper continua com a mesma idade enquanto os filhos já estão crescidos e com filhos.

Muitos filmes mostram um mundo à beira do colapso, onde um herói é designado para, literalmente, "salvar a humanidade". O filme não foge tanto assim disso, mas não dá para dizer que ele segue um clichê. O roteiro é bem construído, e as atuações são excelentes, com destaque para Matthew McConaughey, ganhador do último Óscar e grande nome da geração atual de atores. Na parte técnica, a única coisa que realmente me incomodou foi a trilha sonora. Em alguns momentos ela se torna extremamente insuportável.



Por fim, Interestelar é um filme grandioso em sua essência, mas não me deixou saciado no final. Eu queria algo a mais, confesso, mas ainda assim é um filme a ser lembrado pelos próximos anos. Contemplativo, o longa tenta nos mostrar que somos apenas uma pequena partícula de um universo tão vasto e ainda inexplorado, e esse é seu grande mérito.


terça-feira, 18 de novembro de 2014

Crítica: Relatos Selvagens (2014)


Escrita e dirigida por Damián Szifron, Relatos Selvagens (Relatos Salvajes) é uma excelente comédia de humor negro que, de forma inteligente, foge de qualquer esteriótipo do gênero. O filme consiste em uma pequena introdução seguida de 5 histórias diferentes, que não tem relação alguma entre elas, a não ser mostrar os limites do ser-humano ao perder o controle com situações do cotidiano de qualquer centro urbano.


A primeira (e mais curta) história inicia o filme de forma brilhante, como uma introdução ao que viria pela frente. Em pleno ar durante uma viagem de avião, os passageiros começam a conversar e descobrem que, de alguma forma, todos possuem um laço negativo com uma mesma pessoa, um aspirante a músico. Intrigados, logo descobrem que essa mesma pessoa está na cabine do avião, e tudo não passa de um plano de vingança muito bem elaborado.

Após o início fenomenal, somos enviados para um restaurante de beira de estrada, onde uma garçonete é obrigada a atender um desafeto do passado, responsável pela morte de seu próprio pai. Ela deseja fazer alguma coisa para se vingar do homem, mas lhe falta coragem, ainda que seja insistentemente incentivada pela dona do local a colocar veneno de rato em sua comida. A trama se desenrola até terminar da forma mais inesperada possível, e o destaque fica por conta da cozinheira e dona do local, interpretada por Rita Cortese.


Aliás, o grande trunfo do filme são as formas nada convencionais com que as histórias chegam ao fim. A originalidade individual de cada uma é impressionante, não deixando margens para qualquer previsibilidade. A segunda história é uma das mais engraçadas do filme, e mostra uma briga épica de trânsito. Um homem xinga outro no meio da estrada, mas por uma ironia do destino seu carro estraga logo mais a frente, e ele se vê indefeso quando o outro o alcança e lhe ameaça violentamente. Apesar do teor cômico, o final é o mais macabro de todos.

Na terceira história, temos Simon Fischer (Ricardo Darín), um engenheiro, pai de família, que trabalha numa empresa responsável por implosões com explosivos. Mais do que tudo, esse trecho faz uma pesada crítica à burocracia dos serviços públicos, e principalmente a corrupção que existe no meio deles. O carro do engenheiro é guinchado toda semana, mesmo sem motivo, e para retirá-lo ele deve sempre arcar com uma multa pesada e com a falta de consideração dos servidores.


Na quarta história, a trama faz uma crítica aos ricos e poderosos que pensam ser capazes de tudo. Quando o filho de um milionário atropela fatalmente uma mulher grávida, começa um longo plano da família para esconder o crime. Para inocentar o garoto, o pai promete uma boa grana ao empregado da casa para que ele finja ter sido ele o motorista do carro na noite anterior. No entanto, entram na jogada o advogado de defesa da família e o detetive, que também querem uma boquinha do plano.

Por último, temos um casamento dos sonhos que termina em um verdadeiro pesadelo. Durante a festa, a noiva descobre que o marido a traiu com uma colega de trabalho, que inclusive está no local, e a partir disso ela começa uma vingança. A festa do casamento se torna um verdadeiro caos, em uma das sequências mais malucas e sádicas do cinema, fechando com chave de ouro o longa.


Diferente das comédias brasileiras, onde piadas sobre fratulência ainda são vistas como engraçadas, as comédias argentinas sempre demonstraram maturidade, e é justamente isso que conquista o público. Não é à toa que o longa foi um estrondoso sucesso na Argentina, tendo sido o mais visto do ano até então por lá. Foi ainda o único filme da América-Latina a entrar na competição oficial de Cannes desse ano, sendo aplaudido no final da sessão com louvor. A cereja do bolo foi sua escolha para representar a Argentina no Óscar de melhor filme estrangeiro em 2015.

Ricardo Darín é o nome mais conhecido do filme, mas todo o elenco trabalha de forma primorosa. A fotografia também é sensacional, assim como a trilha sonora, feita no capricho. Apesar das situações malucas, todas são passíveis de acontecer a qualquer um, até porque, afinal, quem nunca perdeu as estribeiras e teve um acesso de raiva?


quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Especial: A trilogia "Before", de Richard Linklater


Richard Linklater é um diretor que sabe retratar a vida e a passagem do tempo como ninguém. Seu nome voltou à tona esse ano com o término das gravações de Boyhood, filme que levou 12 anos para ser feito e que acompanhou o envelhecimento real dos atores em cena. No entanto, se engana quem pensa que essa foi a primeira vez que ele usou esse tipo de recurso nas telas.  Assim como Boyhood, Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes da Meia-Noite, que formam a elogiada trilogia "Before", também trazem atores que envelhecem junto com a história. Filmados em períodos diferentes, juntos somam ao todo 18 anos, de 1995 a 2013.


No primeiro filme da trilogia, lançado em 1995, o americano Jesse (Ethan Hawke) e a francesa Celine (Julie Delpy) se conhecem em uma viagem de trem e resolvem passar uma noite juntos em Viena. O enredo foi baseado em uma história real ocorrida na vida do diretor, que assim como os personagens principais, também teria passado uma noite com uma desconhecida após uma viagem de trem.

O mais interessante, porém, é que o filme foge de qualquer esteriótipo do gênero. Eles não passam uma noite juntos em uma cama de hotel, por exemplo, mas pelo contrário, aproveitam cada segundo curtindo o que de melhor tem para curtir na capital austríaca. Entre caminhadas pelas ruas da cidade e visitas aos seus principais pontos turísticos, eles vão debatendo sobre diversos assuntos e descobrindo o que tem de comum e de diferente entre si. De assuntos simplórios do dia-dia a questões existenciais, o forte do filme, assim como o de toda trilogia, são os diálogos e a espontaneidade das atuações.

Algumas cenas são emblemáticas, como a cena em que eles estão caminhando à beira do rio Danúbio e se deparam com o que Jesse chama de "uma versão vienense de um vagabundo", que ao invés de pedir dinheiro, pede a eles uma palavra para que ele crie a partir dela um poema. Quando começamos a nos apaixonar pelo casal, ainda no começo da manhã eles são obrigados a se separar, já que cada um tem seus próprios compromissos. Ele volta para os Estados Unidos e ela vai para Paris, com a promessa de se verem 6 meses depois para reviverem a melhor noite de suas vidas. O filme termina e a empatia pelo casal é tão grande que é impossível não torcer para que tudo dê certo para eles.


Em 2004, exatos 9 anos após o primeiro filme, Linklater apresentou a continuação da história, respondendo aos fãs a pergunta do que teria ocorrido com os dois. Jesse agora é escritor e está em Paris para promover seu primeiro sucesso, que conta exatamente a história de um casal que vive um romance em Viena após se conhecerem em um trem. Na vida real, Linklater também teria filmado o primeiro filme com a intenção de que a mulher que havia conhecido se identificasse e os dois pudessem se reencontrar. O que ele não sabia, porém, era que ela havia morrido em um acidente de carro um ano antes do lançamento do filme.

Não demora para percebemos que Jesse e Celine não se encontraram conforme o prometido, por motivos completamente alheios as suas vontades. Quando Celine aparece no local onde Jesse está participando de uma entrevista coletiva após o lançamento do seu livro, os dois tem um pouco mais de uma hora e meia para colocar todos os assuntos em dia, antes dele pegar o avião de volta para casa. Assim como no primeiro filme, os diálogos são o grande chamativo do filme, onde vamos aos poucos descobrindo o que cada um fez de sua vida nesse período de tempo, de suas alegrias às suas frustrações. Jesse agora está casado e tem um filho pequeno. Já a vida amorosa de Celine segue completamente instável. No entanto, fica evidente que ambos parecem nunca ter se recuperado daquela noite especial de nove anos atrás.

O final de Antes do Pôr do Sol, assim como o final do primeiro, também deixa aquela ponta de curiosidade sobre sua continuação. Após uma das cenas mais bonitas da trilogia, onde Celine canta uma música de sua autoria sobre o romance dos dois no violão, ela o relembra de ir embora para não perder o vôo e ele apenas ri, deixando subentendido se ele vai ou não embora naquele momento.


Essa pergunta já é respondida na primeira cena de Antes da Meia-Noite, lançado em 2013 (novamente 9 anos após o antecessor). Jesse e Celine estão agora casados e tem duas filhas. O passar dos anos, no entanto, trouxe tudo aquilo que o peso de um relacionamento traz. O amor entre eles não parece mais o mesmo, e as brigas passaram a ser constantes. Além disso, cada um parece ter chegado naquele ponto da vida em que nos perguntamos o que afinal fizemos de nossas vidas.

O filme é muito mais denso que os dois primeiros, e trata a forma como o tempo molda a vida de todos. Linklater escancara os problemas que acontecem com a maioria dos relacionamentos, e fecha com chave de ouro a trilogia mais romântica e bonita do cinema. É possível se reinventar e fazer ressurgir o amor pela pessoa com que se está junto há anos? Isso só o final do filme pode responder.

Resumindo a trilogia em uma frase, dá para dizer que é "a vida como ela é", retratada com fidelidade nas telas. O mais legal de tudo é que os atores realmente parecem apaixonados, e que Linklater apenas colocou uma câmera filmando-os. Não parecem estar encenando, tamanha é a veracidade dos sentimentos. Tanto Hawke como Delpy estão impecáveis, e nos 18 anos que separam os filmes entre si, a sintonia continuou a mesma. Profunda e reflexiva, essa é uma das melhores trilogias do cinema, sem contar que os filmes individualmente estão entre os melhores do gênero.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Crítica: Uma Vida Comum (2014)


Do cineasta italiano Uberto Pasolini, filho do excelentíssimo Luchino Visconti, Uma Vida Comum (Still Life) é um filme sombrio e duro sobre o fim da vida, mas que apesar da aura pesada consegue misturar muito bem o drama com um humor negro bastante peculiar.


Na trama, John May (Eddie Marsan) é um correto e metódico empregado que tem a missão de localizar os familiares de pessoas que morreram sozinhas. Como grande parte dos contatados não se mostram afim de ir até a cidade enterrar seus parentes, ele acaba ficando encarregado de todo o processo, desde a compra do caixão até a cerimônia religiosa.

Apaixonado pelo que faz, ele não se contenta em apenas despachar os corpos, como fazem a maioria de sua profissão. Pelo contrário, ele se dedica com muito carinho a cada um deles, mantendo inclusive um álbum com fotos de todos. Assim como seus "clientes", John também é um ser solitário, talvez até mais do que a maioria deles. Levando uma vida comum, seu único contato é com os colegas de trabalho e por isso mesmo ele se dedica com amor à única coisa que lhe faz bem.


Após 22 anos trabalhando nessa mesma empresa, ele acaba sendo demitido por causa de um corte de gastos imposto pela nova diretoria que assume o lugar. Antes de ir embora, porém, ele tem a oportunidade de terminar um último trabalho, de seu vizinho Billy Stoke. Por ser sua última chance de fazer aquilo que gosta, ele acaba se jogando de cabeça no caso.

O final é belíssimo, e de uma ironia que dói. Independente da crença que o espectador tenha, é impossível não se emocionar com as duas últimas tomadas. A atuação de Marsan é muito precisa, e sem falar muito, grande parte das emoções do personagem estão descritas nas suas expressões. Uma atuação suave e intensa, que faz toda a diferença no resultado final.



Por fim, Uma Vida Comum tenta mostrar aquele medo que todo ser humano tem de morrer sem ser lembrado, ou pior do que isso, de morrer sozinho. É uma grata surpresa do cinema europeu, e um dos filmes mais interessantes do ano.