terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Crítica: Tangerines (2014)


Em 1992, quando estourou a guerra entre os chechenos e os georgianos pela posse das terras da região de Abecásia, uma população de estonianos que vivia na região retornou em peso para sua terra natal, e poucos ficaram para contar a história. Entre os que ficaram está Ivo (Lembit Ulfsak), que vive em uma casa isolada e passa os dias em sua oficina fabricando caixas de madeira, que depois são usadas para guardar e transportar as tangerinas que seu vizinho Margus (Elmo Nuganen) colhe no pátio de sua casa.


Certo dia os dois são surpreendidos por um tiroteio na frente das casas, e depois que tudo se acalma eles verificam que tem um veículo parado com dois mortos e dois feridos vivos. Os mortos eles enterram e os vivos eles levam para a casa de Ivo, para que lá eles possam se recuperar. O que eles não esperavam, no entanto, é que os dois sobreviventes são de lados opostos do confronto.

De um lado o checheno Ahmed (Giorgi Nakashidze), do outro o georgiano Nika (Misha Meskhi). Para Ivo e seu vizinho isso não importa, e eles tratam os dois como iguais. Para eles não há diferença de lado, e graças a um acordo firmado com os feridos, todos prometem uma trégua enquanto estiverem dentro da casa recebendo os cuidados. Apesar de respeitarem isso, eles não cansam de se injuriar e de se prometer para quando saírem dali.


Com o passar do tempo, Ahmed e Nika vão percebendo com a convivência que acima de qualquer diferença étnica eles são seres humanos, e que eles estão lutando uma guerra que na verdade nem é deles. Quando chega ao final, somos arrebatados por um acontecimento trágico, mas que ao mesmo tempo nos dá esperança e nos enche os olhos de orgulho. Como um ódio infundado de geração para geração pode ser tão avassalador? Assim como muitos outros que estavam naquela luta, Ahmed e Nika não sabiam bem pelo que lutavam. "Eu vou matá-lo, eu vou matá-lo (...) Quem deu esse direito a vocês?" pergunta Ivo, e a mesma fica sem resposta.

A ambientação é impecável. O ambiente hostil e vazio de uma guerra, deixa tudo ainda mais real. É impressionante o trabalho do roteiro, que segura o espectador até o final com leveza. São quatro pessoas em uma casa, de idade, nacionalidade e religião distintas, cada uma com uma visão de mundo diferente, que aprendem a se respeitar a se aceitar com o tempo. Elogio também ao trabalho da trilha sonora, impecável, e cuja música que se repete o filme todo é de uma beleza ímpar.


Por fim, quem não viu ainda, não deve perder a chance. Intimista e humana, a obra do diretor Zaza Urushadze já desponta como forte favorita ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Óscar de 2015, representando a Estônia. Um filme que faz desabrochar sentimentos únicos em cada um de nós. Um filme pra entrar pro hall dos melhores da década.

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