sexta-feira, 30 de maio de 2014

Crítica: Vivir es fácil con los ojos cerrados (2013)


A vida pode ser complicada, difícil, e por vezes desgastante, mas isso jamais deve ser motivo para desanimar. A luta por algum sentido na vida e a realização dos sonhos são, superficialmente, o que move o enredo desse novo filme do diretor David Trueba, cujo nome se refere a uma famosa frase cantada por John Lennon.



Estamos na Espanha, em plena ditadura de Franco. Nesse contexto vive Antônio (Javier Cámara), um simpático professor de inglês que dá aulas para as crianças usando uma influência peculiar: as canções dos Beatles, de quem ele é um fã incondicional. Mais do que a simples apreciação das músicas do grupo, Antônio possui uma paixão incomensurável por John Lennon, o compositor e intérprete de boa parte delas.

Ao descobrir que o cantor irá gravar um filme na cidade de Almería, relativamente perto de onde ele mora, Antônio resolve pegar o carro e partir rumo ao local para finalmente ver de perto o seu grande ídolo. No caminho ele acaba encontrando Belén (Natalia de Molina) e Juanjo (Francesc Colomer), dois jovens que estão fugindo de suas vidas frustantes.



Belén, de 21 anos, está fugindo de uma instituição católica, onde foi internada pelos pais após ter ficado grávida. O jovem Juanjo está fugindo de casa e da sua família conservadora, depois de ter se cansado das repressões do pai que implicava com seu comportamento e seu cabelo comprido. A personalidade de ambos se contrasta com a de Antônio, que com seu modo quase infantil e uma pureza única no coração, é de fato encantador. Para ele a vida é como as músicas dos Beatles, as vezes alegre, as vezes melancólica, e é com essa disparidade de sentimentoe qele vai levando a vida, tentando sempre manter o sorriso no rosto. 

Javier Cámara, que é conhecido principalmente por seus papéis cômicos em filmes de Almodóvar, traz um personagem sério e tem aqui uma de suas melhores atuações. Os jovens também mostram qualidade, sendo boas surpresas. O enredo é diferente, original, e fica ainda mais interessante quando descobrimos se tratar de uma história real. Na conversa que teve com Lennon, Antônio teria reclamado que os discos não vinham mais com as letras das músicas impressas, e a partir daquele ano, todos os discos dos Beatles vieram com essa característica. Verdade ou mito? Cabe a nós acreditar ou não.


Vencedor de 13 prêmios Goya, incluindo melhor filme e melhor direção, o "road movie" espanhol chama a atenção principalmente pela simplicidade. Com boas paisagens, bons diálogos e boas atuações, é certamente um dos filmes mais bacanas dos últimos anos.


terça-feira, 27 de maio de 2014

Confira os vencedores do Festival de Cannes 2014.


Ocorreu nesse último domingo (25) a premiação do 67º Festival de Cannes, na França. A Palma de Ouro, prêmio principal, foi entregue pelas mãos de Quentin Tarantino e Uma Thurman ao turco Nuri Bilge Ceylan, pelo filme Winter Sleep. Consagrado em 2011 por Era Uma Vez na Anatólia, Nuri era um dos mais cotados ao prêmio e confirmou o favoritismo, colocando de vez seu nome entre os principais diretores da atualidade.

O segundo prêmio mais importante da noite, o Grande Prêmio do Júri, foi entregue ao italiano Le Meraviglie, de Alice Rohrwacher, enquanto o Prêmio Especial do Júri foi dividido entre o veterano Jean-Luc Godard, por Adieu au Language, e o jovem Xavier Dolan, por Mommy.


O troféu de melhor direção foi para Bennett Miller pelo drama Foxcatcher, e o prêmio de melhor roteiro ficou com o russo Andrey Zvyagintsev, por LeviathanNa categoria de melhor ator, quem ficou com o prêmio foi Timothy Spall por seu papel em Mr. Turner, e na de melhor atriz, Julianne Moore se consagrou por sua participação em Maps to the Stars, novo filme de David Cronenberg.

As impressões que o festival deixou no final foram muito boas. Além dos filmes que levaram prêmios para casa, outros também chamaram bastante a atenção, como o western The Homesman, dirigido por Tommy Lee Jones, e o drama Deux Jours, Une Nuit, dos irmãos Dardenne.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

As 5 personagens mais excêntricas de Helena Bonham Carter

Nascida em Londres no dia 26 de maio de 1966, Helena Bonham Carter é conhecida mundialmente por ser uma atriz extremamente versátil, especialista em personagens exóticos e fora do normal. Carter estreou no cinema em 1984, quando protagonizou o filme Lady Jane, mas só veio chamar a atenção da crítica com seu trabalho posterior, Uma Janela para o Amor. Após uma sequência de filmes inexpressivos, ela teve um papel importante em Clube da Luta, que serviu para alavancar de vez sua carreira.

Em 2006 ela entrou para o elenco de Harry Potter dando vida à vilã sádica Belatrix Lestrange, tornando-se um ícone entre os fãs da saga. Ela ainda participaria de mais 3 filmes do menino bruxo ao longo dos anos. Carter ficou conhecida principalmente por sua parceria com Tim Burton, uma das mais rentáveis do cinema atual. Juntos eles fizeram até agora sete filmes: Planeta dos Macacos, A Fantástica Fábrica de Chocolates, Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas, Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet, A Noiva Cadáver, Alice no País das Maravilhas e Sombras da Noite. Nos últimos anos ela ainda fez duas parcerias de sucesso com o britânico Tom Hooper, em O Discurso do Rei e Os Miseráveis, onde recebeu o BAFTA de melhor atriz coadjuvante. 

Em homenagem à data do aniversário da atriz, o Cinema Arte traz uma lista com as 5 personagens mais excêntricas da sua carreira. Incluiria mais algum? Comente.


Bellatrix Lestrange, de Harry Potter

Muitos conheceram a atriz primeiramente na saga Harry Potter, por sua participação como a vilã Belatrix Lestrange. Temente ao lorde das trevas, Voldemort (Ralph Fiennes), Lestrange tem as principais características de um bom vilão: é cruel, sádica, maluca, e não pensa duas vezes na hora de matar.

Rainha Vermelha, de Alice no País das Maravilhas

De todas as suas parcerias com Tim Burton, essa talvez tenha sido a mais marcante. Na pele da Rainha Vermelha, a frase "cortem-lhe a cabeça" virou ícone na releitura do clássico Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Irreconhecível por conta dos efeitos, a atriz tem um dos seus papéis mais interessantes, e faz muito bem feito.

Sra. Lovett, de Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Ao lado de Johnny Depp, Carter dá vida a Sra. Lovett, esposa do barbeiro assassino Sweeney Todd que assombrou a Inglaterra na segunda metade do século 19. O musical de Tim Burton é primoroso, tanto na fotografia como na trilha sonora, e a personagem da atriz é morbidamente adorável.

Madame Thenárdie, de Os Miseráveis

No grande clássico da literatura, Madame Thenárdier é a esposa do inescrupuloso Thenardiér, e juntos eles formam um casal ganancioso que passa por cima de tudo e de todos para atingir os seus desejos. No filme dirigido por Tom Hooper, Carter personifica a personagem com vigor, em uma de suas participações mais engraçadas no cinema.

Jennifer Hill/Bruxa, de Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas


A personagem de Carter em Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas no início aparenta ser uma pessoa comum, que vive em uma casa velha abandonada. Mas como seus personagens nunca são normais, ela se mostra com o tempo ser uma bruxa, e tem uma importante participação na história, ainda que por pouco tempo.

domingo, 25 de maio de 2014

Crítica: Séptimo (2014)


Quem não gosta do cinema argentino, bom sujeito não é. Sempre inovador, o cinema dos nossos vizinhos parece amadurecer a cada ano que passa, e só nessa última década faltaram dedos para contar o número de obras-primas. Sétimo Andar (Septimo) pode não ser um dos melhores filmes do ano, mas é mais um para a lista de bons filme vindos de lá.



Sebastián (Darín) é um advogado recém separado, que continua indo ao apartamento da ex-mulher especialmente para pegar os filhos e levá-los na escola. Ele e Delia (Belén Rueda) sempre brigam quando se vêem, sobretudo porque ela está planejando voltar a morar na Espanha e levar junto os pequenos.

Mesmo estando sempre com pressa para chegar logo ao tribunal, ele costuma brincar com as crianças de um jogo que eles denominam "jogo das escadas", onde ele desce os sete andares pelo elevador e elas descem pela escada, e quem chegar primeiro no térreo é o vencedor. Porém, dessa vez a brincadeira não termina nada bem, pois as crianças simplesmente desaparecem pelo caminho sem deixar nenhum vestígio.



Contando com a ajuda do porteiro e de um vizinho delegado, Sebastián procura desesperado pelos filhos e pouco a pouco passa a suspeitar de todos, o que é normal numa situação como essa. Qualquer um passa a ser o suspeito do sumiço, e Sebastián chega a acreditar que se trata de um golpe por conta de seu trabalho, já que ele está envolvido em um importante julgamento e sem sua presença no tribunal a sessão seria adiada.

A atuação de Darín é algo à parte, justificando mais uma vez o porque dele ser considerado por muitos como o melhor ator que o cinema argentino já viu. Não que o filme seja ruim, mas o fato é que ele carrega a história nas costas. Sua mudança de expressão na hora em que pressente que algo está errado ficou marcado para mim no começo do filme. Ele é o carro chefe, participando de todas as cenas, e transporta para nós a figura perfeita de um pai em desespero com o desaparecimento dos filhos, sendo impossível não sentir na pele o que ele está passando.



O enredo tem algumas pontas soltas, mas que ficam diminuídas pelo excelente ritmo, que não deixa o espectador desgrudar os olhos da tela um segundo. O desfecho pode até ter sido previsível, mas não dá para negar que o filme deixou o tempo todo aquela pontinha de dúvida, fazendo aquilo que todo filme de suspense deve como obrigação fazer: brincar de adivinha com a cabeça do espectador.


sexta-feira, 23 de maio de 2014

Crítica: 7 Caixas (2014)


Maior bilheteria da história do cinema Paraguaio e vencedor de diversos prêmios internacionais, 7 Caixas (7 Cajas), do diretor Juan Carlos Maneglia, é o exemplo mais recente de que o cinema latino-americano vem numa crescente de qualidade como nunca visto antes, mesmo utilizando poucos recursos.


A trama acompanha Victor (Celso Franco), um jovem que trabalha carregando compras dos clientes no seu carrinho em um grande mercado público na cidade de Assunção. O local é conhecido por ter diariamente uma grande concentração de pessoas, misturando feira livre com camelódromo, e ocupa vários quarteirões da cidade.

Apesar da pobreza, Victor não deixa de ser um sonhador. Numa televisão do local ele assiste a filmes americanos de ação e se imagina aparecendo um dia na telinha. Quando sua irmã mostra a ele um novo celular com câmera filmadora embutida (em 2005 isso era uma grande novidade tecnológica) seus olhos brilham, e ele deseja ter um para poder gravar seus próprios vídeos.


Durante um dia normal de trabalho, Victor recebe uma proposta inusitada: carregar sete caixas sem saber do conteúdo que existe dentro delas. As caixas estavam no fundo de um açougue, e a sua missão é dar uma volta com elas até que a polícia desocupe o local, que está sendo investigado. Em troca, lhe é prometida uma nota de 100 dólares. O que ele não esperava é que a partir de então sua vida iria se transformar num verdadeiro filme policial, assim com aqueles que ele adorava assistir.

Assim como o protagonista, nós espectadores também não sabemos o que há nas tais caixas, e quando descobrimos, percebemos junto com ele que o caso é muito mais sério do que se poderia imaginar. Por causa dessas caixas, ele e sua amiga Liz passam a correr perigo, sendo perseguidos por três grupos diferentes: pela polícia, que suspeita do conteúdo da caixa, por um grupo de carreteiros rivais, que acreditam que dentro delas há uma enorme quantia em dinheiro, e pelos contratantes do transporte (o dono e os funcionários do açougue), que as querem de volta pelo conteúdo real.


Mesmo sendo um filme duro e inquietante, ele tem espaço para o bom humor, utilizado em algumas cenas de forma inteligente. A posição da câmera e a trilha sonora frenética faz o filme ter um ritmo alucinante, criando um clima de tensão que sobrevive até o minuto final. O enredo por si é muito bem construído, dando espaço para as excelentes atuações vindas principalmente de atores semi-profissionais e amadores.

Ao meu ver, a única coisa que não se encaixou foi a história das mulheres que trabalham quase como escravas em um restaurante de orientais. A intenção do diretor talvez tenha sido mostrar o quanto as pessoas são capazes de se submeter em troca de dinheiro para o sustento, mas achei meio deslocado, mesmo tendo algumas cenas aproveitáveis.



Apesar de possuir clichês americanos, não dá para dizer que não se trata de um filme inovador. Podemos enxergar essas semelhanças com o cinema do norte como uma espécie de sátira aos filmes feitos por lá, mas com toques regionais e uma ironia própria. Com tamanha originalidade, ainda há quem ouse dizer que do Paraguai só saem coisas falsificadas.


quinta-feira, 22 de maio de 2014

Crítica: Zulu (2014)


O Apartheid, que dividiu a África do Sul em um dos mais brutais regimes raciais vistos na história, já foi tema de inúmeros filmes e livros, que costumam geralmente mostrar a herança histórica e cultural que aquele período deixou em seus habitantes até os dias de hoje. Zulu, do diretor Jerôme Salle, traz mais uma história original sobre o assunto, e chama a atenção principalmente pelo bom enredo e pelo elenco afiado.


Quando garoto, Ali (Forrest Whitaker) viu seu pai ser brutalmente assassinado durante o regime do Apartheid, além de ter sido violentado pelos policiais enquanto fugia da cena. Essa é uma imagem que jamais saiu de sua cabeça, mesmo agora, anos depois. Ele agora é comandante da polícia na Cidade do Cabo, e lidera um grupo de detetives na investigação de um crime violento contra uma jovem mulher. 

A jovem era filha de um famoso treinador da equipe nacional de Rugby, e seu corpo é encontrado na praia local. Ao investigar mais a fundo os indícios encontrados na cena, os policiais acabam tendo que lidar com gente cada vez mais da pesada e sem nenhum tipo de escrúpulos, descobrindo fatos absurdos do passado.


O filme possui cenas pesadíssimas de violência e tortura, e algumas são realmente difíceis de suportar. O diretor consegue recriar com veracidade o clima de tensão existente nas ruas sul-africanas, onde a violência (assim como no Brasil) parece crescer a cada dia. A situação piora quando uma outra jovem é encontrada morta quase no mesmo local e da mesma forma, criando a hipótese de crimes em série.

Do meio para o final algumas surpresas acabam deixando o filme um pouco confuso. Os crimes foram praticados por um grupo que, no passado, estava envolvido em um projeto de limpeza étnica. A droga Tick, que foi utilizada como arma pelo antigo projeto, voltou às ruas, e dessa vez muito mais mortal, e é por intermédio dela que os crimes acabam ocorrendo.


Os personagens são muito bem construídos, tendo cada um sua própria característica. Entre os policiais responsáveis pela investigação está Brian (Orlando Bloom), dono de uma personalidade bastante problemática. Envolvido com o abuso de álcool e mulheres, ele tem que lidar com uma separação conturbada, com a repugnância do filho para consigo mesmo, e com o dia dia pesado do trabalho.

Já Forrest Whitaker, que é para mim um dos melhores atores do cinema americano, comprova mais uma vez que sabe o que faz. Seu personagem traz no rosto marcas de uma vida sofrida, sobretudo pelo que lhe aconteceu na infância, e mesmo assim mostra ter forças para lutar pela segurança do país. Por fim, Zulu não chega a ser um filme para reverenciar, mas também não é filme para se jogar fora. Não à toa, o filme foi escolhido para encerrar o festival de Cannes de 2013, sendo bastante elogiado pela crítica presente no final da exibição.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

Crítica: The Railway Man (2014)


Você perdoaria alguém que lhe fez passar pelos piores momentos da sua vida? Questões como vingança e perdão são levantadas com bastante sensibilidade pelo diretor Jonathan Teplitzky em The Railway Man, que já entra fácil pra a lista dos melhores filmes do ano.



Eric Lomax (Colin Firth) sempre foi aficionado por trens e um verdadeiro entusiasta de ferrovias. Foi inclusive durante uma viagem de trem que ele conheceu o grande amor da sua vida, Patti (Nicole Kidman). No entanto, o meio de transporte nem sempre foi motivo de alegria para o homem, que traz no rosto e na alma cicatrizes de um período negro da sua vida, que aos poucos vamos descobrindo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Eric foi capturado junto de seus companheiros pelos Japoneses e transportado em trens de carga para um local isolado, onde passou por momentos traumáticos. Obrigado a trabalhar pesado e torturado com veemência enquanto esteve em cativeiro, Eric vive até hoje com as duras sequelas daquele período.


Preocupada com os surtos do marido, Patti vai atrás de um velho amigo seu, que também serviu no exército e presenciou junto dele todos os horrores da Guerra. Através das conversas com Finlay (Stellan Skarsgard), ela começa a descobrir todo o passado do marido, que até então ela desconhecia.

Com apoio de Finlay e de Patti, Eric resolve voltar ao local onde foi torturado para reencontrar um antigo carrasco, após descobrir que ele ainda está vivo, buscando pôr de vez um fim na sua guerra interna. Nagase (Hiroyuki Sanada) ainda vive no mesmo local, e trabalha agora comandando grupos de turistas que vão até lá para visitar um antigo museu de guerra.



A cena do reencontro entre eles é uma das melhores que vi nos últimos tempos. Construída nos mínimos detalhes, ela transmite uma emoção pura, principalmente pela atuação fantástica dos atores envolvidos. Poucos teriam o sangue frio que Eric teve ao ficar frente a frente com um personagem que lhe infringiu tanto sofrimento. Mais do que isso, poucos teriam a força de perdoá-lo e ainda por cima virar amigo.

A história verídica de Eric Lomax é apenas uma entre tantas outras daquele período que nunca foram contadas. O enredo é muito bem feito, e conta com a ajuda de uma trilha sonora belíssima. O começo é confuso, mas as peças vão se juntando com o tempo, formando um quebra-cabeças que nos prende até o final.

No entanto, o que mais chama a atenção é mesmo o elenco. Colin Firth está impecável no papel de Eric já velho, mas quem também merece elogios é Jeremy Irvine, que faz o papel de Eric jovem. Nicole Kidman também tem uma forte presença na pele de Piatti, assim como Stellan Skarsgard no papel de Finlay.



Por fim, The Railway Man tem tudo que um bom filme precisa: elenco afiado, enredo bem construído e trilha sonora marcante. O filme que deverá ganhar o nome de "Uma Grande Viagem" no Brasil, ainda não tem lançamento previsto por aqui, mas deve ser bastante aguardado. Se tiver a chance de assistir, não perca.


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Crítica: The Lunchbox (2014)


Na cidade de Mumbai, na Índia, é bastante comum o uso dos "Dabbawallahs", homens que trabalham entregando marmitas para os trabalhadores no horário do almoço. Apesar do grande número de entregas diárias, eles são conhecidos por nunca errarem, sendo um exemplo de organização e competência para o mundo todo. O enredo do filme, no entanto, cria uma situação hipotética onde o grupo comete um grave erro, que por sua vez acaba criando uma situação bastante inusitada.




Na trama, Fernandes (Irrfan Khan) é um viúvo que está prestes a se aposentar. Homem sério, ele vive sozinho, e tem como costume encomendar almoço todo os dias de um precário restaurante da cidade. Do outro lado da cidade vive Ila (Nimrat Kaur), uma dona de casa que aparece no início do filme preparando uma marmita com todo o carinho para o marido antes de deixar nas mãos do entregador.

No caminho, por algum motivo, as marmitas acabam sendo trocadas e quem recebe a comida feita por Ila é Fernandes. Ele estranha a qualidade superior da comida em comparação com os outros dias, mas acredita que o restaurante é que mudou alguma receita ou até mesmo o cozinheiro, sem imaginar a verdadeira origem.




Quando descobre que seu marido não está recebendo sua comida, Ila resolve enviar um bilhete junto com a encomenda para explicar o ocorrido. A partir de então, isso vira uma constante, e os dois passam a se corresponder através dos papeizinhos entregues dentro das embalagens. Mesmo sem nunca terem se visto, e sem conhecerem direito a história um ao outro, eles iniciam uma troca de confidências, e as reflexões sobre a inconstância da vida passam a ser o grande trunfo do filme. 


Ambos buscam na verdade algum sentido para suas existências, principalmente para os dias que virão. Ila se sente desanimada pela falta de atenção do marido, sobretudo quando descobre que ele a está traindo. No entanto, precisa de submeter a tudo por não ter onde ir. Já Fernandes se ressente por se achar velho demais, e acreditar que não viveu a vida como deveria ter vivido.



Ainda que nunca tenham se visto, dá para dizer que o relacionamento entre eles mudou sensivelmente cada um, principalmente Fernandes. Antes sério e descontente com a vida, Fernandes agora consegue até mesmo sorrir, além de ter se tornado menos egoísta e solitário.  
Além da relação com Ila, ele forma uma forte amizade com Shaikh (Nawazuddin Siddiqui), o homem que vai substitui-lo no emprego, e é através dessas duas relações que vamos acompanhando o crescimento interno do personagem.

O enredo foge um pouco daquele estilo "Bollywoodyano", cheio de músicas e clima festivo, e por isso trata-se de uma boa surpresa para quem vai assistir. As atuações são boas, e quem mais chama a atenção é Irrfan Khan, conhecido do público por filmes como Quem Quer Ser Um Milionário e As Aventuras de Pi. O
 diretor estreante Ritesh Batra nos traz um filme complexo e de uma qualidade invejável para qualquer iniciante, que encanta justamente pela simplicidade.


Crítica: Ilo Ilo (2013)


Representante de Singapura no Óscar desse ano, Ilo Ilo já havia chamado a atenção no ano passado quando recebeu em Cannes o prêmio de melhor filme de um diretor estreante. Anthony Chen traz em seu primeiro trabalho uma obra que encanta ao mesmo tempo em que choca, mesclando cenas de ternura com cenas duras em uma história cativante e extremamente simples. 


A trama acompanha um período na vida da família Lim, durante o período de recessão econômica que assolou o continente asiático na década de 90. Leng e Teck moram em um pequeno apartamento junto com o filho Jiale. O garoto é uma peste, mal criado e mal educado, e volta e meia arruma confusão na escola onde estuda.

Numa tentativa de controlar a vida do menino enquanto não estão em casa, o casal resolve contratar Teresa, uma jovem Filipina, para trabalhar como empregada da casa e babá do menino. A relação entre ela e o menino não poderia começar de maneira pior: Jiale a destrata diariamente, seja moral ou fisicamente, e a jovem vai aguentando tudo com uma paciência que eu particularmente não teria. O motivo? Ela não tem para onde ir, principalmente por estar ilegalmente no país.


Com o passar do tempo, no entanto, os dois acabam se afeiçoando. Vamos percebendo que boa parte do comportamento de Jiale se deve aos pais, e passamos a entender que ele começa a ver em Teresa a figura materna que nunca teve. Por conta dos problemas externos, Leng e Teck não conseguem dar a atenção devida ao garoto, e isso reflete muito em sua personalidade agressiva.

A trama é interessante por também mostrar coisas fora do circulo familiar, como o suicídio de um vizinho que se jogou da cobertura de um alto prédio. A situação na região era complicada na época, com diversas famílias sendo desestruturadas ao perder tudo, e o diretor consegue transpôr muito bem para as telas esse clima de tensão causticante.


Por fim, Ilo Ilo é um bom filme, e por vir de um país onde o cinema ainda é extremamente amador, merece mesmo todos os elogios. O enredo é extremamente simples, mas muito bem elaborado. O silêncio e as expressões faciais são utilizados a todo momento para demonstrar o sentimento que as palavras talvez não conseguiriam, e isso é um grande ponto a favor. O outro ponto positivo é a atuação do menino Koh Jia Ler, que dá um show de interpretação.


sexta-feira, 9 de maio de 2014

Crítica: O Enigma Chinês (2014)


Será que a vida é mesmo complicada, ou nós é que a complicamos? Essa é uma questão que me surgiu durante os créditos finais de O Enigma Chinês, novo filme do diretor Cédric Klapish (O Albergue Espanhol / Bonecas Russas). E talvez tenha sido justamente essa a sua intenção: nos fazer questionar sobre a inconstância da vida e mostrar que isso nunca pode virar motivo para desespero.



O escritor Xavier Rousseau (Romain Duris) é um verdadeiro descontente com a vida que leva. Aos 40 anos de idade, ele acaba de romper um casamento de 10 anos com Wendy (Kelly Reilly), onde teve dois filhos e uma vida aparentemente feliz. Para piorar, Wendy está se mudando para os Estados Unidos onde conheceu outro homem, e quer levar junto as crianças.

No mesmo dia em que Xavier está lançando um livro de sucesso, Wendy parte com os filhos para o novo país, deixando o mesmo completamente desolado. Como alternativa, ele também decide partir para a América na tentativa de ganhar a vida por lá e principalmente poder conseguir acompanhar mais de perto o crescimento dos pequenos.



Ele acaba sendo acolhido pela amiga Isabelle (Cécile de France), uma lésbica que mora com sua namorada Ju (Sandrine Holt). Enquanto passa a cuidar dos filhos em finais de semanas, Xavier luta para conseguir alugar um apartamento na metrópole americana, mas a dificuldade aparece quando seu advogado informa que ele precisa urgentemente casar com uma americana para poder seguir morando no país.

Após algumas confusões, que incluem um complicado reencontro com o pai e um atropelamento dentro de um táxi (entre outras coisas malucas que parecem só acontecer com o personagem), ele acaba conhecendo uma família de descendentes chineses e inventando um casamento com a filha deles. Nesse ínterim, ainda surge na história Martine (Audrey Tautou), uma solteirona que era uma grande amiga de Xavier na França e que passa a dividir apartamento com ele.



O filme possui um humor diferenciado. Uma das cenas mais curiosas e engraçadas é quando Xavier, em meio a devaneios, começa a "conversar" com os filósofos alemães Shoppenhauer e Hegel, buscando em suas palavras o alívio para cada situação. Essa constante busca do personagem pela resolução de seus problemas nos faz pensar em quanto tempo de nossas vidas perdemos apenas resolvendo coisas, ao invés de viver a vida da forma mais plena.

O elenco é muito bom, e cada personagem tem sua particularidade bem trabalhada. Roman Duris, que já trabalhou em diversas produções do diretor, tem uma excelente participação, assim como a experiente Audrey Tautou. Dos menos conhecidos, quem chama a atenção é Cécile de France, a melhor amiga de Xavier.

A técnica é a mesma utilizada nos outros dois filmes de sucesso de Klapish, O Albergue Espanhol e Bonecas Russas, onde os fatos acontecem de forma natural, criando uma aproximação maior com quem assiste. O único ponto negativo é o ritmo, que no começo me prendeu mas à medida em que foi se aproximando do final, acabou deixando um pouco a desejar.


Apesar de trazer diversas discussões sobre a vida, ele não é um filme pretensioso, e muito menos existencialista. É um filme leve, do tipo que não vai mudar nada na sua vida, mas quem disse que o cinema não é feito de filmes assim? Com certeza vale a pena dar uma chance e assistir mais essa pérola do cinema francês.