sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Crítica: Birdman (2014)


Quem vem lá? É um avião? É um pássaro? Não, quase isso. É Birdman, o super-herói fictício criado por Alejandro González Iñarritú. Quinto longa-metragem do diretor mexicano, do qual sou fã desde o primeiro (Amores Brutos), Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) é tão genial quanto o seu subtítulo e um dos filmes mais originais já vistos nas telas dos cinemas.



Birdman, ou melhor, Riggan Thomson (Michael Keaton), ficou famoso na década de 90 ao protagonizar três filmes sobre o super-herói voador, baseados em histórias em quadrinhos. Com o passar dos anos, a carreira de Riggan caiu no ostracismo e perdeu espaço na mídia, principalmente depois de ele ter rejeitado filmar uma quarta sequência para a franquia.

Para se reerguer na carreira, Riggan decidiu migrar para a Broadway, onde começou a dirigir e a atuar em sua própria peça dramática. Nos ensaios ele dá tudo de si e exige isso também dos atores, o que faz com que ele demita quem não mostra capacidade para o papel principal. Com ajuda de sua filha Sam (Emma Stone) e seu produtor Jake, ele procura por um ator que se encaixe perfeitamente à peça e é nesse momento que aparece Mike Sneier (Edward Norton).


Sem o mesmo prestígio de antigamente, mas contando com apoio de todos ao redor, Riggan vai percebendo que seu personagem na peça vai tendo mais similaridade com sua vida fora dos palcos do que ele mesmo esperava. Durante todo o filme, uma espécie de alter-ego seu, na forma do próprio Birdman, tenta a todo custo desestimular ele a dar andamento no gênero dramático e voltar para a ação. 

Aliás, é nessa parte que o diretor faz uma excelente crítica ao mundo do entretenimento atual, em que é preciso se ter mais ação e menos diálogos para chamar a atenção do público. Muitos com certeza irão ao cinema pensando assistir um filme típico de super-herói e irão se decepcionar. Para obter sucesso hoje em qualquer setor cultural, seja no cinema, na música ou na televisão, não é preciso ter talento, e é daí que vem o sensacional subtítulo "A Inesperada Virtude da Ignorância".



O filme é filmado como se fosse um grande plano sequência (apesar de não ser por inteiro, boa parte foi de fato filmada sem interrupção). Isso de certa forma cria mais intimidade com o público, que passeia pelos bastidores do teatro como um espectador onipresente. A trilha sonora é, pasmem, toda feita através de solos de bateria. Isso mesmo, não há melodia trabalhada, nem cordas, nem nada, apenas os tambores de uma bateria subindo e descendo conforme a dramaticidade da cena, e isso foi simplesmente genial.

A indústria do entretenimento é massante, desgastante, e Iñarritú faz aqui uma crítica ferrenha aos próprios críticos que, segundo ele, tem esse trabalho porque não sabem fazer mais do que isso. A história de Riggan seria uma coincidência com a vida real de Michael Keaton, que filmou Batman (também nos anos 90) e depois caiu no ostracismo? Sinceramente, eu acredito que sim, ainda que o diretor não tenha deixado isso explícito.

Falando em Keaton, a atuação dele não é menos do que espetacular, e é merecida sua indicação como melhor ator em boa parte das premiações desse ano. Quem também está impecável é Edward Norton, que também concorre como ator coadjuvante, inclusive no Óscar. Aliás, fazia tempo que ele não fazia um trabalho tão interessante.



O final é subjetivo, e talvez seja exatamente isso que o diretor queria. Ele brinca com a verdade, e principalmente com a cabeça do telespectador. Original como poucos filmes da atualidade, é um filme que deixa o espectador vidrado do início ao fim, até porque não pára um segundo. É impressionante como o tempo passa e você nem percebe, e confesso que ficaria mais horas assistindo-o sem perceber.

Por fim, Birdman não tem uma história de superação, não conta uma história real, nem possui os famosos sons de violinos que embalam uma trama dramática, mas então porque ele está no Óscar? Talvez porque é justamente isso que faltava para o cinema atual: originalidade, e isso o filme tem de sobra. Independente de premiações, podemos dizer que o maior vencedor nesse caso é o próprio cinema.


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