quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Crítica: Grandes Olhos (2015)


Conhecido por seus filmes incomuns, na maioria das vezes de aspecto gótico e sombrio, Tim Burton poucas vezes flertou com algo convencional. O único filme "normal" do diretor até então havia sido Ed Wood, a biografia do diretor homônimo conhecido como o pior de todos os tempos, mas reverenciado por filmes como Plano 9 do Espaço Sideral. Pois em 2015 Burton volta à seriedade com Grandes Olhos (Big Eyes), curiosamente também uma biografia, que já pode ser considerado um dos filmes mais bacanas da sua carreira.



Margareth Ulbrich (Amy Adams) acabou de se separar do marido e mudar de cidade junto com sua filha pequena. Grande artista, ela carrega os esboços de sua arte aonde vai, mas para sobreviver tem que se contentar em trabalhar como pintora em uma fábrica de móveis. Porém, todo fim de semana ela ganha a chance de expor seus quadros na feira de uma praça local, onde desenha crianças em tempo real em troca de alguns centavos, já com a característica que seria marcante em seus trabalhos: os olhos grandes. 

É nessa feira que ela conhece Walter Keane (Christoph Waltz), um corretor de imóveis carismático que também é artista. Não demora muito para que os dois iniciem um relacionamento amoroso, que os leva a casar e morar junto depois de um tempo. Quando Walter consegue um espaço para mostrar seu trabalho e o de Margaret, ele começa a perceber aos poucos que os quadros da esposa chamam muito mais atenção que os seus. Então, visando o grande lucro que as obras de sua esposa trariam, Walter acaba crescendo o olho (desculpem o trocadilho) e começa a mentir para as pessoas que os quadros são seus.



Mesmo depois de descobrir a farsa, Margareth aceita entrar no "jogo" para ajudar o marido e garantir o sustento do casal, mas com o tempo acaba virando refém de uma mentira que ela mesma ajudou a criar. O sucesso é tanto que possibilita a criação de uma vasta galeria para expôr e vender todas as obras, mas a ganância de Walter extrapola todos os limites, o que leva a separação do casal e a um processo judicial pela autoria dos quadros.

O filme acerta em cheio ao tentar mostrar o quanto a arte é cada vez mais desvalorizada. Enquanto que para Margareth aquelas pinturas eram tudo e representavam sua alma, para Keane eram apenas dinheiro. Cópias mal feitas eram vendidas por centavos, não importando mais a qualidade e sim a quantidade. O enredo é muito bem construído e é realmente um pecado o filme ter sido completamente esquecido pela Academia no Óscar.



Além do enredo e da fotografia, as atuações também são elogiáveis. Aliás, Amy Adams não levou o Globo de Ouro pela segunda vez consecutiva por acaso. Já Christoph Waltz dispensa comentários, e comprova mais uma vez porque talvez seja o melhor ator que surgiu na última década. Por fim, mesmo sem grandes pretensões, Grandes Olhos acaba sendo um dos filmes mais interessantes do ano, e sem dúvida vale a pena ser conferido.


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