quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Crítica: Mil Vezes Boa Noite (2014)


No meio de escombros, uma câmera fotográfica ensanguentada pelo chão. É com essa imagem que começa Mil Vezes Boa Noite (Tusen Ganger God Natt), do diretor norueguês Erik Poppe (Hawaii, Oslo / Águas Turvas). A cena infelizmente é quase rotina na vida de Rebecca (Juliette Binoche), uma fotógrafa de guerra que ganha a vida registrando momentos que poucos teriam coragem de registrar.



Casada e mãe de duas filhas, ela ama o que faz. A família por sua vez também sente orgulho da sua profissão, prova disso é a filha mais velha manter guardado um álbum com recortes de jornal contendo fotos tiradas pela mãe ao longo dos anos. Ao mesmo tempo, porém, todos sentem muito medo da insegurança e do que pode acontecer a Rebecca em uma de suas viagens, e por isso o marido (Nikolaj Coster-Waldau) tenta a todo momento fazer com que ela desista da carreira.

Ela no entanto não larga a profissão por nada no mundo. Mais do que paixão pela fotografia, ela faz esse trabalho como uma tentativa desesperada de abrir os olhos do mundo para a maldade e a injustiça que existem em países onde conflitos são constantes. Os retratos que ela tira mostram a realidade nua e crua do que acontece nessas regiões, muitas vezes esquecidas pelo resto do mundo.



Aliás, o filme faz uma critica justamente ao pouco caso que os países desenvolvidos fazem da situação. Quando a personagem diz que as pessoas estão mais preocupadas com a Paris Hilton saindo de um carro sem calcinha do que com as crianças morrendo na áfrica, não passa de um retrato cruel da realidade. No final, sentimos o mesmo que Rebecca: a sensação de revolta e impotência ao ver que as coisas irão continuar acontecendo e nós somos incapazes de mudar tudo isso. 

O enredo, no entanto, foge da apelação, e encanta pela belíssima fotografia. A atuação de Binoche, como sempre, é excelente, mas todo o elenco também está de parabéns. Por fim, Mil Vezes Boa Noite é um filme que dói na alma, e confesso que fiquei sem palavras após assistí-lo. Levou um certo tempo para digeri-lo para falar a verdade. Quanta barbárie há longe das nossas vistas, e quanta maldade o ser-humano é capaz de fazer. Um filme que deveria ser visto por todos.


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