segunda-feira, 6 de abril de 2015

Crítica: 14 Estações de Maria (2015)


Ainda estamos no mês de abril mas, para mim, o alemão 14 Estações de Maria (Kreuzweg) já é um dos melhores filmes lançados no Brasil em 2015. Vencedor do Urso de Prata de melhor roteiro e de melhor filme do júri ecumênico no último Festival de Berlim, o filme dos irmãos Bruggemann é uma das críticas mais contundentes contra o dogmatismo religioso que já tive a chance de assistir.


O longa já começa mostrando a que veio na primeira cena, onde durante 15 minutos com a câmera estática, acompanhamos um padre declamando todos os ensinamentos básicos da igreja católica a adolescentes que estão às vésperas da sua crisma. Da adoração e o culto à figura de Jesus a criação de um "exército da salvação", ele passa por todos os tópicos mais importantes do cristianismo, fazendo aquela "lavagem cerebral" que todos sabemos que existe nas igrejas mais ortodoxas.

Entre esses jovens está Maria (Lea Van Acken), uma menina tímida e quieta, que desde cedo recebeu dos pais, sobretudo da mãe, um tratamento religioso extremamente rigoroso. Obrigada a seguir à risca todas as regras sociais que a igreja impõe, ela não tem direito a brincadeiras, não tem direito a ter amigos. Fica fora da própria educação física da escola por acreditar que a música da aeróbica é diabólica, e por isso é rechaçada por todos os colegas.


Vivendo em um mundo onde a diversão é pecado e o medo de não ir pro céu é tão grande quanto qualquer outra coisa, Maria se mostra cada vez mais distante do que se esperaria de uma menina de sua idade. O pior de tudo é que ela é realmente levada a acreditar em tudo que ouve, e por isso se fecha propositalmente para o mundo exterior. Se você for reparar, as pessoas fanáticas raramente sorriem, raramente fazem algo que gosta, e o filme mostra com competência o impacto que essa criação acaba tendo num adolescente que está dando os primeiros passos da vida adulta. 

No enredo, não há uma cena sequer que não tenha uma intensidade dramática. Aliás, a divisão em capítulos foi uma excelente escolha. Cada capítulo faz uma referência aos 14 passos da via sacra de Jesus descritos na bíblia (que eu confesso que não conhecia até então), fazendo ligação entre eles e a história vista em cena. Outro ponto alto do filme são as atuações, principalmente de Lea Van Acken e Franziska Weisz, que faz o papel da mãe de Maria.


Sem escolher um lado, se preocupando apenas em mostrar friamente o dia-dia de quem enfrenta esse "martírio" sem opção de escolha, o diretor deixa ao espectador a função de definir se isso é certo ou errado. Infelizmente, sabemos que filmes como 14 Estações de Maria são pouco divulgados por aqui, mas se você tiver a chance de assistir, não deve perder. Vale a pena cada segundo.

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