segunda-feira, 11 de maio de 2015

Crítica: O Sal da Terra (2014)


Concorrente ao Óscar de melhor documentário em 2015, O Sal da Terra (Le Sel de la Terre) é um dos melhores filmes do gênero que já tive a oportunidade de assistir, mexendo comigo como poucos até hoje conseguiram. Dirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, o documentário é uma biografia do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, mas vai muito além disso.



Nos últimos 40 anos, o fotógrafo mineiro Sebastião Salgado viajou pelos cinco continentes do globo, onde registrou com sua câmera alguns dos principais eventos da nossa história recente. Foi logo no começo da carreira que ele descobriu seu maior dom: fotografar o ser-humano e mostrar a alma de cada um através do olhar, e ninguém possui tamanha habilidade para isso como ele. Guerras, secas, fome, campos de refugiados, isso tudo fazia parte do cotidiano de Salgado, que registrou as mais belas e cruéis imagens da barbárie humana ao longo de sua carreira. 

Sua fase "social" é sem dúvida a mais chocante de todas. Seja registrando costumes indígenas da América Latina, ou expondo as terríveis condições humanas na África, o fato é que suas fotos doem na alma. São imagens poderosas, e é impossível não olhar para elas e não sentir vergonha da nossa raça, ou pelo menos um sentimento de impotência muito grande por saber que coisas horríveis acontecem por aí e não podemos fazer nada para ajudar.



A angústia de Sebastião Salgado foi tanta depois de tudo que viu que ele perdeu a fé na humanidade, e depois de décadas, não conseguiu mais registrar imagens como aquelas. "Várias vezes larguei as câmeras para chorar pelo que via", disse o fotógrafo com um olhar emocionado. Porém, ele seria incapaz de deixar sua paixão de lado, e foi então que resolveu iniciar uma nova série de fotos, onde registraria as belezas naturais do planeta, numa espécie de homenagem ao que ainda existe de bonito por aqui.

O documentário ainda termina abordando o projeto de replantio da mata atlântica que Sebastião Salgado iniciou junto com sua família, que mudou completamente a paisagem desmatada que antes existia ao redor das terras da família. No fim das contas, o sentimento que fica é de que deveriam existir mais pessoas como Sebastião Salgado. Um exemplo de homem, que tentou mudar o mundo através das suas lentes.



Por fim, O Sal da Terra é uma verdadeira celebração à arte da fotografia. A direção acertou em cheio ao mostrar quase tudo em preto e branco, como são a maior parte das fotos de Salgado. É certamente um filme para se apreciar e se apaixonar, e uma verdadeira lição sobre a nossa humanidade.


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