terça-feira, 30 de junho de 2015

Crítica: A Estrada 47 (2015)


Em 1944, mais de 25 mil soldados brasileiros atravessaram o Oceano Atlântico para lutar ao lado dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, e pela primeira vez na história, um filme veio para contar os bastidores de tudo o que aconteceu com eles por lá. A Estrada 47, do diretor Vicente Ferraz, não é só mais um filme de guerra, mas um tratado sobre um pedaço até então pouco conhecido da nossa história.


Se engana quem pensa que a FEB (Força Expedicionária Brasileira) não teve relevância durante o conflito. Apesar de terem ido em número reduzido e de forma precária, os nossos pracinhas cumpriram bem o seu papel, sendo responsáveis por colocar em prática táticas essenciais do comando Aliado, como vigiar pontos específicos ou até mesmo desarmar minas terrestres.

Um desses grupos de soldados ficou responsável por tomar conta do Monte Castelo, na Itália, logo após terem o conquistado. Durante uma noite de vigília, muitos deles acabaram sofrendo um violento ataque de pânico, que acabou fazendo com que todos se separassem. Passada a confusão, quatro deles voltaram a se encontrar: Guimarães (Daniel de Oliveira), Tenente (Julio Andrade), Laurindo (Thogun Teixeira) e Piauí (Francisco Gaspar).


Reunidos novamente, os cinco não sabem o que fazer: retornar ao batalhão e serem julgados por abandono de posto, ou voltar lá para cima do Monte e correr o risco de cair numa emboscada inimiga. Na dúvida, resolveram seguir viagem pelos campos congelados, onde encontraram o jornalista Rui (Ivo Canelas), que lhes conta sobre um campo minado ativo que se torna a grande chance deles se redimirem dos erros cometidos até então.

Apesar do tema ser guerra, não espere um filme de ação. O mais interessante do enredo são de fato os personagens. O soldado Guimarães (por sinal, mais uma excelente atuação de Daniel de Oliveira) narra boa parte do filme através de cartas para seu pai, e mostra com emoção todo sentimento que era presente naquele lugar, onde a maioria não sabia exatamente o porquê de estar ali.

O nordestino Piauí é sem dúvida o personagem mais carismático do filme. Humilde e de bom coração, ele acaba fazendo amizade com um soldado alemão ferido, que eles capturam e levam como prisioneiro por boa parte do caminho. Além disso, ele e o soldado Laurindo passam o tempo todo trocando farpas, o que gera algumas cenas engraçadas e ajuda a aliviar o clima pesado e denso da trama.


Todos estavam ali praticamente sem preparação nenhuma. A maioria deles nunca havia recebido sequer um treinamento mínimo para estar em combate, e não sabiam nem como engatilhar uma arma. Além disso, as roupas que usavam não eram preparadas para o rigoroso inverno europeu, o que talvez tenha sido a principal causa de mortes entre eles.

Por fim, A Estrada 47 pode até não trazer grandes novidades na questão narrativa, mas pode ser considerado um marco histórico para o cinema nacional, que prova mais uma vez possuir uma imensa capacidade técnica quando quer. Vencedor do prêmio principal do Festival de Gramado de 2014, é um forte candidato para nos representar no próximo Óscar, inclusive com boas chances de chegar aos finalistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário