quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Crítica: O Conto dos Contos (2015)


Bastante conhecido no circuito europeu, principalmente no Festival de Cannes depois de Gomorra (2008) e Reality (2012), o italiano Matteo Garrone volta às telas em 2015 com um filme completamente diferente de tudo que ele já havia realizado até então. Se nos dois filmes anteriores ele abusou da realidade nua e crua, em O Conto dos Contos (Il Racconto dei Racconti) ele flerta com o lúdico e o fantasioso ao mostrar três "contos de fadas" bizarros que se passam há alguns séculos atrás.


A primeira narrativa acompanha o casal real formado por John C. Reilly e Salma Hayek. O Rei e a Rainha de Longtrellis querem um filho a qualquer custo, mas por algum motivo ela nunca consegue engravidar. A última alternativa é apelar para uma simpatia prescrita por um mago, onde a Rainha deve comer o coração de um monstro marinho, morto pelas mãos do Rei e cozinhado por uma virgem. Porém, ele alerta: toda vida criada exige uma perda, para que o equilíbrio na Terra seja mantido, e isso pode custar caro no fim das contas.

Depois de conseguir finalmente dar a luz, ela precisa lidar com outro problema: o crescimento precoce e a independência do filho (Christian Lees), que faz a Rainha se tornar uma mãe super protetora ao extremo. Ela não aceita sua amizade com o filho da criada, e isso acaba causando um desconforto enorme na relação familiar, que se transforma em um barril de pólvora pronto a explodir.


A segunda estória acompanha o Rei de Strongcliff (Vincent Cassel), dado a orgias e excessos, que se apaixona por uma mulher que ele ouve cantar através da janela de seu palácio. Apaixonado por sua voz, ele acredita se tratar de uma jovem e bela moça e passa a seguir seus passos, mas nem imagina que na verdade ela é Dora (Hayley Carmichael), uma idosa que vive trancafiada dentro de casa com sua irmã Imma (Shirley Henderson).

Inexplicavelmente, de um dia para o outro Dora volta a ter a aparência jovial de décadas atrás, e graças a isso, acaba conquistando definitivamente o coração do Rei que pede sua mão em casamento. Porém, novamente o filme mostra que tudo tem seu preço, e Dora precisa deixar de lado a irmã que faz de tudo para voltar a ter sua companhia.


A terceira e última trama é talvez a mais estranha e bizarra de todas (se é que isso é possível), e conta a estória do Rei de Highhillsque (Toby Jones) que cria uma fixação por uma pulga e passa a criá-la e alimentá-la como seu animal doméstico até que ela alcance um tamanho descomunal. 

Enquanto isso, sua filha Violet (Bebe Cave) sonha casar e sair de casa, e o Rei promete fazer uma aposta com todos os homens do reino para que um deles seja seu genro. Porém, quem ganha a aposta é um homem incrivelmente selvagem e boçal, que acaba levando a jovem princesa para morar em uma caverna no meio das montanhas. Com a ajuda de Circus Owner (Alba Rohrwacher) e seus filhos, Violet tenta escapar, mas a tarefa é muito mais difícil do que ela imaginava.


Reza a lenda que todos os contos de fadas famosos advém de histórias reais e trágicas, e o que Garrone faz aqui é simplesmente mostrar os contos como eles realmente deveriam ser, com muito sangue e passagens sombrias sim, mas principalmente muita ambição e ganância. Todos tinham desejos, mas para estes serem concedidos o custo foi alto, e cada um fez sua escolha e arcou com suas próprias consequências.

As histórias não se cruzam, apesar de serem contadas paralelamente, mas isso não faz o filme perder sua graça. A beleza visual é sem dúvida o que mais chama a atenção, mas todo o roteiro é construído com minúcia, e as atuações também são bastante competentes.


Por fim, só posso dizer que O Conto dos Contos é uma experiência única no cinema atual. Há muito tempo não sentia algo tão poderoso vindo de um filme, e fiquei bastante emocionado com o resultado final. Vale muito a pena dar uma conferida.


Um comentário:

  1. adorei tem que ter censo critico vale como ensinamento para nossas vidas, que muitos desejos tem um preco muito alto.

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