quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Crítica: O Homem das Multidões (2015)


Vencedor do prêmio principal no 26º Festival de Cinema Latino-americano de Toulouse, na França, o brasileiro O Homem das Multidões, dos diretores Cao Guimarães e Marcelo Gomes, retrata de forma simples e silenciosa a solidão no mundo contemporâneo, cada vez mais individualista.


Juvenal (Paulo André) é um homem solitário que trabalha como maquinista no metrô de Belo Horizonte. Sem família e sem amigos, ele não tem desejos e nem paixões na vida, e passa seus dias apenas sobrevivendo, sem ter nenhuma atividade que o dê prazer. Sua casa possui poucos móveis e nenhum contato com a tecnologia, acentuando ainda mais seu isolamento do mundo exterior.

Em outro canto da cidade vive Margô (Sílvia Lourenço), que também trabalha no metrô, mas na central de monitoramento. Ela é tão solitária quanto Juvenal, e a única diferença é que ela usa bastante as redes sociais, onde mantém contato com outras pessoas apesar de nunca vê-las pessoalmente. Cabe aqui a crítica perspicaz sobre as relações humanas na era da internet, onde todos conhecem todos e ninguém conhece ninguém.


A ironia do trabalho dos dois é justamente essa: enquanto vivem solitários, são obrigado a ver e transportar todos os dias milhares de pessoas. Para representar a vida entediante dos dois, os diretores usaram o recurso da imagem no formato 1:1, ou seja, apenas um quadrado no meio da tela. Isso consegue reforçar a ideia de claustrofobia, ao mostrar muito pouco do que acontece ao redor e se focar somente na imagem central.

A trilha quando aparece é belíssima, mas os sons que mais chamam a atenção são mesmo os barulhos sonoros característicos de uma metrópole como buzinas, freadas e sirenes, que fazem parte do filme até nos momentos mais introspectivos. O filme se perde um pouco em devaneios em certo momento, mas se recupera no final, e termina como uma boa reflexão sobre o papel do ser-humano no mundo.

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