domingo, 10 de abril de 2016

Crítica: A Bela Estação (2016)


Em tempos de crescimento do movimento feminista e da intensa luta pelos direitos dos homossexuais, A Bela Estação (La Belle Saison), da diretora Catherine Corsini, é um verdadeiro achado. Ambientado na primavera de 1971, o filme começa acompanhando Delphine (Izia Higelin), uma jovem sonhadora que vive com seus pais numa fazenda do interior da França.


Vivendo numa região rural bastante conservadora, ela não tem a liberdade de assumir sua verdadeira sexualidade e mantém escondidos os seus relacionamentos. Porém, tudo muda quando Delphine resolve fazer uma inocente viagem à Paris, onde conhece um grupo de mulheres que lutam pela liberação da mulher e seu lugar de destaque na sociedade. 

Sentindo-se finalmente livre para ser quem sempre foi, ela inicia um relacionamento amoroso com Carole (Cécile de France), uma mulher mais velha que participa do grupo feminista.  Questões como a homossexualidade, o aborto, e a divisão igualitária de tarefas e salários entre homens e mulheres é abordada com afinco no começo do filme, mas perdem força do meio pro final, quando o filme passa a priorizar o romance entre as duas.


Quando Delphine resolve voltar para a fazenda, ela já é outra pessoa, completamente diferente daquela inocente jovem que saiu dali semanas atrás. É quando percebemos também o choque cultural entre as duas localidades, uma isolada e vivendo do passado e outra já cheia de influências de outras culturas.

O ponto forte do filme é a grande atuação das atrizes. A química entre elas é impressionante e é realmente o que mais chama a atenção durante todo o longa. Porém, alguns problemas de andamento ficam bem evidentes, como a mudança brusca de tempo em algumas partes, que faz alguns fatos ficarem mal explicados. Ainda assim, A Bela Estação é um filme interessante e, acima de tudo, essencial.

domingo, 3 de abril de 2016

Crítica: O Valor de um Homem (2016)


A peregrinação de um homem de meia idade em busca de um sentido para sua vida e principalmente de um emprego digno. É isso que move O Valor de um Homem (La Loi du Marché), novo trabalho do diretor Stéphane Brizé que volta a trabalhar com Vincent Lindon depois do tocante Uma Primavera com Minha Mãe.


O enredo acompanha desde o início o dia-dia de Thierry (Lindon) e sua insistente procura no mercado de trabalho, mostrando os quantos "nãos" que ele ouve pelo caminho e é obrigado a aceitar, enfrentando tudo de cabeça erguida. Enquanto isso, tem ainda tem que lidar com a deficiência do filho e a dificuldade financeira cada vez mais alarmante dentro de casa.

São situações de um cotidiano não muito distante de nós. A luta diária pela sobrevivência é mostrada de forma crua, sem rodeios, como se fossemos um telespectador ativo da história. Apesar das dificuldades, Thierry ainda busca ter alegrias na vida, como as apaixonantes aulas de dança que frequenta. Fica a nítida mensagem de que, por mais dificuldades que existam pelo caminho, sempre tem que se dar valor aos momentos bons.


Quando Thierry finalmente consegue emprego como segurança de um mercado, ele logo se vê dividido moralmente por ter nas mãos o destino de pessoas como ele, que tentam, ainda que de forma ilícita, conseguir se manter. Então surge o dilema: para manter o emprego, ele deverá aceitar tudo?

A atuação mais uma vez impressionante de Vincent Lindon é o que move o filme. Seus sentimentos estão presentes no olhar, nos gestos, e ele fez jus ao prêmio César que recebeu esse ano. Por fim, só senti falta de um final mais conclusivo na estória, que poderia ter sido mais explorado, mas isso não chega a estragar o resultado final.