segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Crítica: Eu, Daniel Blake (2017)


Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2016, o britânico Ken Loach prova que, aos 80 anos de idade, ainda sabe abordar os problemas sociais contemporâneos como poucos. Com um enredo devastador que versa, sobretudo, a respeito da dignidade humana, Eu, Daniel Blake faz uma crítica contundente aos sistemas governamentais e suas burocracias.

Daniel Blake (Dave Johns) é um carpinteiro de 59 anos que acaba de sofrer um ataque cardíaco. Impedido pela sua médica de trabalhar, ele busca conseguir um benefício financeiro ao qual tem direito, mas sempre acaba esbarrando na burocracia. Primeiro, o sistema é todo informatizado, e Daniel nunca mexeu em um computador. Segundo, os próprios peritos cometem erros bobos que trancam o processo. E terceiro, existe uma má vontade dos responsáveis em resolver o problema. 

Na intensa via sacra, Daniel conhece Katie (Hayley Squares), uma mãe solteira que acabou de chegar na cidade e também está buscando o auxílio. Katie não tem dinheiro nem para comprar um litro de leite, e o desespero é ainda maior do que o de Daniel, pois ela tem duas crianças para alimentar. A relação paternal que se cria entre os dois acaba se tornando o mote central da história, reforçada pela boa atuação dos atores. 

O personagem de Daniel logo de cara adquire a simpatia e empatia do espectador, não só pelo seu jeito, mas pela situação ser palpável de acontecer com qualquer um. No mundo de hoje, quem vive de auxílios, mesmo necessitando de verdade, é taxado de aproveitador e preguiçoso, e o filme tenta desmistificar isso. Daniel não quer ficar em casa, quer trabalhar. Os médicos é que não deixam, e ele fica a mercê do governo mesmo sem querer. 

Por fim, Eu, Daniel Blake é um filme para se refletir, independente de sua posição política. Pelo menos é o que se espera. Com uso do bom humor, Loach consegue trazer uma linguagem de fácil compreensão e nenhum didatismo. É a vida como ela é, a realidade crua de uma sociedade onde, quem pouco tem, não recebe o merecido respeito. 

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