terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Os indicados ao Óscar 2018


Saiu nesta terça-feira (23) a lista dos indicados ao Óscar 2018, e confesso a vocês que achei bem fraca em relação aos anos anteriores. Começando pela categoria de melhor filme, parece até piada de mal gosto as indicações de Corra! e Lady Bird, principalmente o segundo, que é raso e totalmente descartável. Mas a disputa de verdade será acirrada entre A Forma da Água (recordista desta edição com 13 indicações), O Destino de uma Nação e Três Anúncios para um Crime. Na parte de direção, a decepção é ver Greta Gerwig concorrendo e Martin McDonadh fora da disputa. Onde a Academia está com a cabeça?

A categoria de melhor atriz já tem uma grande favorita ao prêmio: Frances McDormand, que está incrível em Três Anúncios para um Crime. Vale lembrar a presença de Meryl Streep, que concorre pela 21ª ao Óscar. Já a categoria de melhor ator parece estar mais disputada este ano, com nomes consagrados como Gary Oldman, Denzel Washington e Daniel Day-Lewis.

Na categoria de melhor roteiro original, a grande surpresa é a presença de Doentes de Amor, um filme despretensioso que ganhou os corações dos espectadores mas que jamais era esperado na premiação. Em roteiro adaptado, os fãs de de Wolwerine devem ficar contentes com a presença de Logan. Quem também concorre é Artista do Desastre, de James Franco, que muitos esperavam ver em mais categorias mas só concorre nesta. Enfim, confira abaixo a lista completa:

A Forma da Água, de Guillermo del Toro, é o recordista de indicações deste ano.














MELHOR FILME
A Forma da Água, de Guillermo del Toro
Corra!, de Jordan Peele
Dunkirk, de Christopher Nolan
Lady Bird, de Greta Gerwig
Me Chame pelo seu Nome, de Luca Guadagnino
O Destino da Nação, de Joe Wright
Phantom Thread, de Paul Thomas Anderson
The Post, de Steven Spielberg
Três Anúncios para um Crime, de Martin McDonagh

MELHOR DIREÇÃO
Christopher Nolan, de Dunkirk
Guillermo del Toro, de A Forma da Água
Greta Gerwig, de Lady Bird
Jordan Peele, de Corra!
Paul Thomas Anderson, por Trama Fantasma

MELHOR ATRIZ
Frances McDormand, por Três Anúncios para um Crime
Margot Robbie, por Eu, Tonya
Meryl Streep, por The Post
Sally Hawkins, por A Forma da Água
Saoirse Ronan, por Lady Bird

MELHOR ATOR
Daniel Day-Lewis, por Trama Fantasma
Daniel Kaluuya, por Corra!
Denzel Washington, por Roman J. Israel, Esq.
Gary Oldman, por O Destino de uma Nação
Timothée Chalamet, por Me Chame pelo seu Nome

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Allison Janney, por Eu, Tonya
Laurie Metcalf, por Lady Bird
Leslie Manville, por Trama Fantasma
Mary J. Blige, por Mudbound
Octavia Spencer, por A Forma da Água

MELHOR ATOR COADJUVANTE
Christopher Plummer, por Todo o Dinheiro do Mundo
Richard Jenkins, por A Forma da Água
Sam Rockwell, por Três Anúncios para um Crime
Willem Dafoe, por Projeto Flórida
Woody Harrelson, por Três Anúncios para um Crime

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
A Forma da Água
Corra!
Doentes de Amor
Lady Bird
Três Anúncios para um Crime

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
A Grande Jogada
Artista do Desastre
Logan
Me Chame pelo seu Nome
Mudbound

MELHOR FILME ESTRANGEIRO
Desamor (Rússia)
Insulto (Líbano)
On Body e Soul (Hungria)
The Square (Suécia)
Uma Mulher Fantástica (Chile)

MELHOR ANIMAÇÃO
Breadwinner
Com Amor, Vincent
O Poderoso Chefinho
O Touro Ferdinando
Viva - A Vida é uma Festa

MELHOR DOCUMENTÁRIO
Abacus
Faces Places
Icarus
Last Men in Aleppo
Strong Island

MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO
A Bela e a Fera
A Forma da Água
Blade Runner 2049
Dunkirk
O Destino de uma Nação

MELHOR FOTOGRAFIA
A Forma da Água
Blade Runner 2049
Dunkirk
Mudbound
O Destino de uma Nação

MELHOR FIGURINO
A Bela e a Fera
A Forma da Água
O Destino de uma Nação
Trama Fantasma
Victoria & Abdul

MELHOR MAQUIAGEM
Extraordinário
O Destino de uma Nação
Victoria & Abdul

MELHOR TRILHA SONORA
A Forma da Água
Dunkirk
Star Wars: Os Últimos Jedi
Trama Fantasma
Três Anúncios para um Crime

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
Mighty River, de Mudbound
Mystery of Love, de Me Chame pelo seu Nome
Remember Me, de Viva - A Vida é uma Festa
Stand Up for Something, de Marshal
This is Me, de O Rei do Show

MELHORES EFEITOS VISUAIS
Blade Runner 2049
Guardiões da Galáxia Vol. 2
Kong: A Ilha da Caveira
Planeta dos Macacos: A Guerra
Star Wars: Os Últimos Jedi

MELHOR EDIÇÃO DE SOM
A Forma da Água
Blade Runner 2049
Dunkirk
Em Ritmo de Fuga
Star Wars: Os Últimos Jedi

MELHOR SOM
A Forma da Água
Blade Runner 2049
Dunkirk
Em Ritmo de Fuga
Star Wars: Os Últimos Jedi

MELHOR MONTAGEM
A Forma da Água
Dunkirk
Em Ritmo de Fuga
Eu, Tonya
Três Anúncios para um Crime

MELHOR CURTA DE ANIMAÇÃO
Dear Basketball
Garden Party
Lou
Negative Space
Revolting Rhymes

MELHOR CURTA-METRAGEM
Dekalb Elementary
My Nephew Emmet
The Eleven O'Clock
The Silent Child
Watu Wote / All of Us

MELHOR CURTA DE DOCUMENTÁRIO
Edith+Eddie
Heaven is a Traffic Jam on the 405
Heroine
Knife Skill
Traffic Stop

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Crítica: Três Anúncios Para um Crime (2018)


Cinco anos após lançar o genial Sete Psicopatas e um Shih Tzu, Martin McDonagh volta às telas com um humor negro ainda mais afiado em Três Anúncios Para um Crime. Tido como um dos favoritos ao Óscar deste ano, o filme se passa na cidade de Ebbing e acompanha Mildred Haynes (Frances McDormand), uma mulher que sofreu uma reviravolta nos últimos meses após sua filha ter sido estuprada e brutalmente assassinada numa estrada abandonada da região. 


Indignada por ver o caso sendo deixado de lado pela polícia local, ela decide alugar três outdoors e colocar mensagens exigindo respostas em cada um deles, tendo como alvo o detetive Bill Willoughby (Woody Harrelson). Se sentindo culpado por nunca ter encontrado o verdadeiro responsável pelo crime, o detetive decide recomeçar as investigações, mas ao mesmo tempo, precisa lidar com um câncer terminal e o futuro de sua família quando o pior acontecer.  

Uma característica muito presente no filme é a forma como os personagens vão agindo de forma errada, ainda que para eles estejam certos, e como cada decisão vai criando consequências numa espécie de efeito dominó. São personagens extremamente humanos, com qualidades e defeitos, e um dos maiores exemplos disso é o policial Dixon (Sam Rockwell), que pode ser quase considerado uma espécie de vilão. Beberrão, inconsequente e sem escrúpulos, ele não mede esforços para estragar sua reputação.


Dando vida a uma mulher forte e determinada, Frances McDormand tem talvez o grande papel de sua longa carreira. Sua atuação é maravilhosa e digna de vencer todas as premiações deste início de temporada. Além das boas atuações e de um elenco competente, o filme possui muitos diálogos marcantes, que fazem pensar bastante sobre a natureza humana e suas nuances.

A estética dos filmes de McDonagh lembram muito a maneira de dirigir dos irmãos Coen, pela maneira de desenvolver os personagens, pela violência natural, pelo humor negro e pelo próprio enquadramento de câmeras. Mas com assinatura original de um diretor que vem pouco a pouco escrevendo seu nome no circuito.


domingo, 14 de janeiro de 2018

Crítica: Viva - A Vida é uma Festa (2018)


Existem filmes que conseguem tocar no fundo da nossa alma de uma maneira inexplicável. E quando o filme é uma animação, o mérito acaba sendo ainda maior. Há anos que o gênero deixou de ser apenas uma diversão para crianças para também conquistar o coração de adultos de espírito livre. Viva - A Vida é uma Festa, novo filme da Disney Pixar, é o tipo de filme que te deixa leve e mais entusiasmado com a vida após terminar, e já para mim a melhor animação do estúdio desde Up (2009).


O filme acompanha o menino Miguel, que pertence a uma família que há anos é conhecida por fabricar sapatos na cidade onde moram. Depois que um cantor abandonou a tataravó de Miguel e destruiu com toda a família, nenhum tipo de música jamais foi permitido nos ambientes familiares novamente. Mas Miguel é apaixonado por música e sonha seguir os passos de seu grande ídolo, Ernesto de la Cruz, o maior cantor da história do México.

Sem seu instrumento, quebrado pela avó, ele decide roubar o violão do túmulo de Ernesto de la Cruz para participar de um show de talentos na praça principal, mas por uma magia acaba indo parar no mundo dos mortos. O mundo dos mortos é retratado aqui de forma bem diferente do que o comum que estamos acostumados. Não há ninguém pra baixo, ninguém sofrendo, apenas festas, muita música e diversão. Um lado otimista da morte e do destino daqueles que um dia fizeram parte de nossas vidas.

No mundo dos mortos, você desaparece para sempre quando ninguém mais lembra de você no mundo dos vivos. O enredo usa isso para passar uma bonita lição sobre o legado que devemos deixar em vida, e as lembranças boas para quem fica. A memória que temos dos nossos parentes mortos é o que move a trama, já que ele só podem atravessar uma espécie de portal para o nosso mundo quando são lembrados por seus parentes vivos na cerimônia do "dia de los muertos".

O filme aborda o tema da morte com muita simplicidade e de uma maneira que não assusta os pequenos. Visualmente o filme é lindo, com muitas cores e muita influência da cultura mexicana. Mas o principal são as canções, principalmente "Remember me", carro chefe da trama que possivelmente estará no Oscar deste ano e que é incrivelmente bela. Aliás, prepare os lencinhos, porque pelo menos em dois momentos do filme você vai sentir uma vontade incontrolável de chorar, e ambos com essa música envolvida.

Por fim, Viva já entrou na lista das melhores animação que já assisti na vida, e olha que tiveram muitas excelentes nos últimos anos. Aperte o play e te prepara pra viajar numa história sem igual, com uma originalidade única e um leque de lições necessárias para adultos e crianças.


terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Crítica: 120 Batimentos por Minuto (2018)


Durante o auge da AIDS, nos anos 1980 e 1990, era quase um tabu discutir o tema na mídia, sobretudo por conta da desinformação e do preconceito vindo de boa parcela da população, que acreditava que a doença só atingia os gays, os drogados e as prostitutas. Desta forma, os próprios governos não se empenhavam em dialogar sobre essa questão, e os tratamentos acabavam ficando sempre em segundo plano.


O filme do marroquino Robin Campello apresenta a história do ACT UP, um grupo francês, liderado por ativistas homossexuais (quase todos soropositivos) que surgiu nos anos 1990 e fez uma série de protestos não-violentos afim de alertar as autoridades e a população dos riscos da AIDS e principalmente sobre suas maneiras de prevenção. Mais do que isso, o grupo criticava veementemente a inércia do governo em relação à questão, que não priorizava a busca por tratamentos enquanto milhares morriam todos os dias nas camas dos hospitais.

Bastante didático em relação ao modo de funcionamento do grupo, o enredo vai além e foca também na vida pessoal de alguns dos integrantes. Apesar de ser um assunto pesado, o filme não se torna deprimente, pelo menos não até sua segunda metade, e tenta o tempo todo mostrar que sempre existe uma ponta de otimismo, mesmo nos casos que parecem irreversíveis na vida.


Confesso que achei um pouco cansativo o filme do meio para o final, quando muda um pouco o foco da história. O final também deixou um pouco a desejar, mas ainda assim, não deixa de ser um filme importante por todas as questões que aborda. Com boas atuações, 120 Batimentos por Minuto certamente é um filme necessário para se entender um pouco mais da doença (já que usa alguns termos e dados técnicos).

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Os Vencedores do Globo de Ouro 2018


Foi realizada na noite de ontem a 75ª edição do Globo de Ouro, uma das premiações mais cobiçadas do cinema mundial. Na parte de filmes, o grande vencedor foi Três Anúncios Para um Crime, que além de melhor filme de drama, ainda ganhou os prêmios de melhor atriz, melhor ator coadjuvante e melhor roteiro.

A cerimônia deste ano ficou marcada pelos discursos inflamados na questão de igualdade de gênero e contra os abusos sexuais que vem vindo a tona no mundo cinematográfico. Um dos discursos mais impactantes foi a de Oprah Winfrey, que recebeu o prêmio Cecil B. DeMille por sua contribuição ao mundo do cinema. Enfim, confira abaixo a lista de vencedores do Globo de Ouro 2018, que abriu a temporada de premiações americanas.


Melhor Filme - Drama
- A Forma da Água
- Dunkirk
- Me Chame pelo seu Nome
- The Post: A Guerra Secreta
- Três Anúncios para um Crime

Melhor Filme - Comédia/Musical
- Artista do Desastre
- Corra!
- I, Tonya
- Lady Bird: É Hora de Voar
- O Rei do Show

Melhor Diretor
- Christopher Nolan, de Dunkirk
- Guillermo del Toro, de A Forma da Água
- Martin McDonagh, de Três Anúncios para um Crime
- Ridley Scott, de Todo o Dinheiro do Mundo
- Steven Spielberg, de The Post: A Guerra Secreta

Melhor Atriz - Drama
- Frances McDormand, por Três Anúncios para um Crime
- Jessica Chastain, por A Grande Jogada
- Meryl Streep, por The Post: A Guerra Secreta
- Michelle Williams, por Todo o Dinheiro do Mundo
- Sally Hawkins, por A Forma da Água

Melhor Atriz - Comédia/Musical
- Emma Stone, por A Guerra dos Sexos
- Helen Mirren, por The Leisure Seeker
- Judi Dench, por Victoria e Abdul
- Margot Robbie, por I, Tonya
- Saoirse Ronan, por Lady Bird: É Hora de Voar

Melhor Ator - Drama
- Daniel Day-Lewis, por Trama Fantasma
- Denzel Washington, por Roman J. Israel, Esq.
- Gary Oldman, por O Destino de uma Nação
- Timothée Chalamet, por Me Chame pelo seu Nome
- Tom Hanks, por The Post: A Guerra Secreta

Melhor Ator - Comédia/Musical
- Ansel Elgort, por Em Ritmo de Fuga
- Daniel Kaluuya, por Corra!
- Hugh Jackman, por O Rei do Show
- James Franco, por Artista do Desastre
- Steve Carell, por A Guerra dos Sexos

 Melhor Ator Coadjuvante
- Armie Hammer, por Me Chame pelo seu Nome
- Christopher Plummer, por Todo o Dinheiro do Mundo
- Richard Jenkins, por A Forma da Água
- Sam Rockwell, por Três Anúncios para um Crime
- Willem Defoe, por Projeto Flórida

Melhor Atriz Coadjuvante
- Allison Janney, por I, Tonya
- Hong Chau, por Pequena Grande Vida
- Laurie Metcalf, por Lady Bird: É Hora de Voar
- Mary J. Blige, por Mudbound - Lágrimas Sobre o Mississipi
- Octavia Spencer, por A Forma da Água

Melhor Roteiro
- A Forma da Água
- A Grande Jogada
- Lady Bird: É Hora de Voar
- The Post: A Guerra Secreta
- Três Anúncios para um Crime

Melhor Animação
- Com Amor, Van Gogh
- O Poderoso Chefinho
- O Touro Ferdinando
- The Breadwinner
- Viva: A Vida é uma Festa

Melhor Filme Estrangeiro
- Em Pedaços (Alemanha)
- First They Killed My Father (Camboja)
- Nelyubov (Rússia)
- The Square (Suécia)
- Uma Mulher Fantástica (Chile)

Crítica: Roda-Gigante (2018)


Na vida só existem apenas duas certezas: a morte, e o lançamento de um filme do Woody Allen todo ano. Desde 1982 é assim, e sua cabeça criativa não para nunca de criar novas histórias. Entre altos e baixos, há sempre espaço para tramas originais, e Allen tem a sorte de sempre poder contar com mulheres poderosas no elenco. Desde Cate Blanchett, em Blue Jasmine, o diretor não tinha um nome de peso, e Kate Winslet caiu como uma luva para levar o filme nas costas e se consagrar com uma das atuações mais impressionantes do ano e de sua carreira.

Ginny (Winslet) foi por anos uma aspirante a atriz, mas agora aos 40 anos de idade só o que lhe restou foi o trabalho como garçonete e um casamento infeliz com o mecânico Humpty (Jim Beluschi), que apesar de ter um bom coração, é um homem bruto e de zero afinidade com ela. Na casa ainda vive o menino Richie (Jack Gore), fruto de seu primeiro casamento, que se torna um personagem marcante na trama graças a sua mania de incendiar coisas.

Para fugir da rotina sem graça, Ginny começou a manter uma relação extraconjugal com o salva-vidas Mickey (Justin Timberlake), um estudante apaixonado por poesia e bem mais novo que ela. Certo dia surge na cidade a adorável Carolina (June Temple), filha de Humpty de um antigo casamento, que está fugindo do ex-marido, um gângster italiano. Ela começa a estudar e acaba ficando na cidade, e não demora para ela conhecer e se afeiçoar a Mickey. A partir de então, o salva-vidas se vê dividido entre as duas mulheres.

Woody Allen segue o mesmo modelo narrativo de seus filmes anteriores: trilha sonora embalada por muito jazz, diálogos cômicos e inteligentes, e situações que, mesmo bizarras, podem fazer parte do cotidiano de qualquer um. O roteiro aparentemente simples vai trazendo várias reviravoltas ao longo de sua duração, e mesmo que boa parte dos acontecimentos acabe sendo previsível, é legal ver como tudo vai se desenrolando. O triângulo amoroso que se cria entre Ginny, Carolina e Mickey é uma deixa e tanto para Allen explorar os sentimentos humanos em seus personagens. 

Pode não ser o melhor filme de Allen nos últimos anos, mas é um filme cativante, e muito disso se dá pelas atuações. Kate Winslet está espetacular e não me surpreenderia se a visse forte nas premiações deste ano. Jim Beluschi também entrega um personagem marcante. Timberlake e Temple também cumprem seus papéis com competência. Quanto a questão técnica, Allen capricha mais uma vez na fotografia e na discrição da época, características que ele prioriza muito em suas obras.


domingo, 7 de janeiro de 2018

Crítica: The Square - A Arte da Discórdia (2018)


Grande vencedor do último Festival de Cannes e candidato sueco ao Óscar 2018, The Square - A Arte da Discórdia finalmente estreou no Brasil, quase um ano após o seu lançamento, e a experiência de assisti-lo na tela do cinema foi fascinante. Provocativo, intenso e com um humor diferenciado, o filme de Ruben Ostlund impressiona desde as primeiras cenas com sequências extremamente originais.

Na trama, Christian (Claes Bang) é o curador de um conceituado museu de arte moderna de Estocolmo. O local está prestes a receber uma nova exposição, chamada de The Square (o quadrado), que segundo a autora, tem a intenção de sensibilizar o público sobre a importância da empatia, a importância de sermos solidários mesmo com quem não conhecemos.

Ao mesmo tempo em que Christian apoia e acha brilhante a ideia dessa conscientização, o mesmo age de forma mesquinha com pessoas de classes mais baixas, e aí está a primeira reflexão que o enredo nos trás. Uma reflexão sobre o egoísmo e a hipocrisia do ser-humano, cada vez mais fechado em si mesmo e cego de não enxergar isso como um problema sério. A segunda reflexão que o filme faz diz respeito à arte em si, e é muito pertinente nos dias de hoje, sobretudo no Brasil, onde 90% das pessoas não frequentam exposições artísticas mas se acham capazes de dissertar sobre o que é arte e o que não é.

Assim como em seu primeiro filme, Força Maior (2014), Ostlund traz novamente a questão da ética e da moral de um homem de meia idade em situações conflitantes. Se no filme anterior a causa do "caos" foi uma avalanche em meio às montanhas dos Alpes, neste caso a história ganha contornos interessantes quando Christian tem seu celular roubado e decide se vingar do ocorrido de forma peculiar, mas pouco madura.

Com cenas emblemáticas, The Square é impecável tecnicamente. O movimento da câmera em alguns momentos me deixou em êxtase. Ostlund possui uma visão magnífica de posicionamento e enquadramento, e o mais surpreendente disso tudo é que se trata apenas de seu segundo filme na carreira, e que ele ainda tem muito pela frente. Além do mais, as atuações também são sublimes, com destaque para o protagonista, Claes Bang, e para Elizabeth Moss, que se torna responsável por algumas das cenas mais engraçadas do longa.


Por fim, saí do cinema com uma sensação gostosa ao fim do filme, como não sentia há algum tempo. Ainda que instigue nosso lado crítico, ele não se torna enfadonho e sua longa duração nem é sentida, porque dá vontade de ver mais. Não é um filme fácil, não é um filme comum, mas quando você consegue pescar sua essência e entrar na história, a experiência se torna única.