domingo, 22 de abril de 2018

Crítica: Arábia (2018)


Vencedor do último Festival de Brasília, Arábia, dos mineiros João Dumans e Affonso Uchôa, é um filme quase documental sobre a vida de um homem trabalhador que, dia pós dia, luta pela sobrevivência nesse Brasil gigantesco e cheio de desigualdade.


O filme começa acompanhando o jovem André (Murilo Caliari), que vive na cidade de Ouro Preto e mora perto de uma fábrica local. Quando um trabalhador da fábrica tem um mal súbito, André fica responsável por ir até sua casa pegar algumas roupas, e lá descobre um caderno onde o homem estava escrevendo sobre sua vida. 

A partir de então, em narrativa off, Cristiano (Aristides de Souza) se torna o protagonista da história através desses seus escritos. Incentivado a escrever sobre sua vida para uma peça de teatro da fábrica, o homem, que pensava não ter tido uma vida interessante, começa a analisar toda sua fase adulta e a refletir sobre tudo que passou para chegar onde está.


A vida de Cristiano é uma verdadeira Odisseia, onde ele passa de emprego em emprego, e viaja por todo o interior de Minas Gerais. No dia-dia ele enfrenta a fome, é obrigado a dormir em lugares insalubres e lidar com "empregadores" extremamente canalhas de fábricas e lavouras, mas nunca desiste de seguir em frente, tendo espaço até mesmo pra encontrar um inesperado amor.

Com cenas marcantes e discursos poéticos, o roteiro tem uma abordagem bem melancólica. O personagem de Cristiano sintetiza todas as angústias de uma vida severina, vivida por milhões de brasileiros que estão à margem da sociedade, e sua narração tem um efeito poderoso, não se tornando em nenhum momento incômoda.


Por fim, Arábia é o retrato de um homem que não se curva diante das dificuldades da vida. Além de boas atuações, o filme também se destaca pela ótima trilha sonora e a belíssima fotografia, que juntos nos fazem imergir na história com intensidade. Mais um grande exemplar do cinema independente nacional.


Nenhum comentário:

Postar um comentário